sábado, 27 de novembro de 2010

Os códigos de ficção contagiaram a realidade por Eduardo Beranger

Os telejornais cada vez mais bebem na água da estética cinematográfica para transmitir suas notícias , e não é preciso nehum esforço quando o cenário espontaneamente já se assemelha a um filme de guerra. Como é o caso da atual situação na cidade do Rio de Janeiro .

Na TV acompanha-se ao vivo a movimentação da polícia e dos bandidos. A população, sufocada, busca maneiras de manifestar a insatisfação e o medo. Nesse cenário de batalha a única coisa que assimilou-se foi a ''bandeira branca da paz''.

Valendo-se dos ''links'' ao vivo das tvs ou de qualquer movimentação midiática os cidadãos prontificaram-se a flamular panos brancos pelas janelas pedindo paz.

Na notícia destacada , a edição e narração constrói um discurso melodramático nítido, com códigos melodramátivos e cinematográficos evidentes como as já citadas bandeiras brancas e o '' lado do bem e o lado do mal". Declarações em entrevista da sociedade esperançosa são intercaladas com as imagens dos tiroteios.

Vídeo: Jornal Hoje - Em meio ao caos, moradores apoiam as ações da polícia no Rio

Uma sociedade singularmente confessanda por Eduardo Beranger

Nesse site as pessoas confessam suas desgraças que podem ser avaliadas pelos visitantes e outros usuários pelo índice VDM , um "termômetro" que mede o nível de desventura do confessando.

A veracidade dos relatos é contestável , mas a necessidade de confissão fez brotar uma ferramenta que gira em torno desse tema. Nesse contexto a intimidade é exposta pelas suas formas mais constrangedoras.

Site: Vida de Merda

ver também: FMylife

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O real de cada dia por Letícia Rossignoli

O século XX foi determinante para a escrita e estética do jornalismo. O modelo norte-americano massacrou formas outras de narrativas dentro das redações, o que ditava os acordes da orquestra jornalística já estavam dadas nas partituras. Enfim, o leitor se acostumou a ler narrativas diferentes na mesma melodia. Pode-se perguntar: quem é esse maestro tão pouco inspirado? A técnica! É a mesma que colocou abaixo todas as aspirações da modernidade, incorporadas pelo projeto iluminista e que retalhou a escrita do jornalismo em blocos de idéias que são, nada menos, do que respostas caquéticas às perguntas não menos prodigiosas, tais como: o que? quem? porque? e quando? Assim, a complexidade que emana do cotidiano humano foi reduzida a pautas pré-montadas.

Saltemos da escrita para a imagem, sem tirar os olhos da linha que os unem, podemos dizer que os conteúdos do jornal tiverem gradativas mudanças com a chegada de outras tecnologias visuais. A visibilidade técnica impõe-se como modelo estético, inicialmente na televisão, mas também no cinema, nos painéis publicitários e em todas as mensagens visuais (CIRO: 2000). A técnica, neste momento, mesclada com as imagens, reafirma sua preeminência nas matérias do jornal. Primeiro, uma imagem tecnicamente perfeita; depois, um texto, uma narrativa, uma notícia.

Porém, nós, pequenos humanos, que temos a descrença na crença, como crença, insistimos, com fé, na “verdade” das imagens técnicas. Instauramos um real que supera a realidade, “a imagem técnica superou as demais artes na sua tradução do realismo mimético”(JAGUARIBE:2007). Queremos os fatos fabricados, mais dramaticidade, criação de cenas e situações impossíveis de obter na realidade. É um direito nosso que nos ofereçam a melhor técnica/estética. E por que não? Mais enfadonho que o dia-a-dia é a maneira que os jornais contam sobre o nosso cotidiano. Concordo com o mercado montando trocadilho, fatos sem excessos de real não vendem jornal.

Voltemos para a escrita e percebamos que narrativas associados ao curioso, ao insólito, ao imageticamente impressionante ganham mais espaço no noticiário. Informar somente, não basta. É necessário se surpreender com pessoas e coisas. A produção de notícias sobre fatos extra-jornalísticos ou não-jornalísticos começam a compor as primeiras páginas. Entrevistas com candidatos a cargos públicos sobre temas “embaraçosos”, a opção sexual de uma certa personalidade e o problema de saúde de algum líder religioso são exemplos desse realismo sensacionalista que vigora na escrita jornalística.

O apelo que se instaura no jornalismo é o mesmo que vemos nos variados meios de comunicação: fazer com que a imagem ou a narrativa midiática seja mais prenhe de realismo do que nossa realidade individual. Desejamos o que é necessário que façamos (RIESMAN), nos encharcar do real. O jornal como lugar da verdade, imparcialidade e transparência se torna num cálice perfeito para que se transborde o vinho novo, aguçado, odor e sabor intensos. Bebemos dessas taças transbordantes todos os dias e embriagados pedimos por mais.

O jornalismo ainda sobrevive amparado em nosso vício, se reformulando de acordo com a ordem estética, pois não se coloca vinho novo em odres velhos. Encerro propondo que façamos a mesma pergunta que Lacan: “Por que será que tenho, também eu, a sensação que esta profissão não existe, que não tem de fato corpo, estatuto, que as práticas jornalísticas constituem na melhor das hipóteses um conjunto heterogêneo com limites incertos, pronto a se deslocar sob as pressões tecnológicas ou econômicas?”

Análise da matéria "O que vocês estão olhando?" por Milton Batista

O que vocês estão olhando?

Uma discussão sobre o direito à intimidade na era do Google Street View, Facebook, Orkut e Twitter

Mais uma matéria que levanta a polêmica questão da privacidade na internet, desta vez tomando como exemplo o Google Street View. Em entrevista ao caderno Aliás, do Estado de São Paulo, Túlio Viana, professor de direito penal na UFMG fala sobre problemas na exposição da intimidade em redes sociais.

A polêmica apontada está inserida numa lógica de sociedade que Gilles Deleuze chamou de sociedade do controle. No caso do Google Street View, a pessoa que se sente lesada, pode recorrer na justiça e pedir que as imagens sejam retiradas. Em contrapartida, nas redes sociais também percebe-se o monitoramento típico desse tipo de sociedade, mas a exposição da intimidade nessas redes é algo consentido pelo usuário e, mais importante, desejado por ele.

O próprio entrevistado, ao ser perguntado qual seria sua reação se fosse flagrado pelas lentes do Street View, brinca e diz que “Se saísse bem na foto, divulgaria o link no Twitter e no Facebook. Se saísse mal, talvez processasse o Google para conhecermos a posição do STF sobre os limites do nosso direito a privacidade”.

domingo, 21 de novembro de 2010

"I'll Be Your Mirror" reflete uma intimidade não invasiva de Thomas Dozol


Em uma época em que a fronteira entre o público e o privado quase não existe, a vida pessoal, seja de celebridades ou anônimos, torna-se foco de interesse. Não é à toa que um programa como “Big Brother”, assim como a maioria dos reality shows, atrai tanta audiência e gera assunto para a imprensa o ano inteiro. A partir desta ideia, a exposição "I'll Be Your Mirror", do badalado fotógrafo francês Thomas Dozol, pode parecer pouco nova. No entanto, a exibição de fotos nas quais ele clicou amigos - famosos e desconhecidos - saindo do banho mostra outra faceta de como lidamos com a questão da privacidade.

Em cartaz no Espaço Soma até 27 de novembro, as 25 fotos que fazem parte da mostra nasceram da proposta de Dozol em flagrar pessoas depois de 15 minutos de banho, sem nenhum tipo de produção, nem mesmo iluminação especial. Assim surge a atriz Gwyneth Paltrow de cabelos molhados, enrrolada em uma toalha, Michael Stype, vocalista do REM, observando-se no espelho, além de pessoas sentadas no vaso sanitário, fazendo a barba, escovando os dentes e em outras situações extremamente íntimas e corriqueiras.

Para o curador da exposição, Diego Godoy, a ausência da produção faz o trabalho de Dozol ser uma crítica ao culto a celebridade."Thomaz dá um tratamento igualitário aos seus amigos. Podemos viajar na intimidade, na introspecção, na solidão de cada um.


Há uma dimensão humana que desconstrói toda essa cultura da celebridade. Famosos, quando não são retratados com glamour, aparecem em fotos distantes, de baixa qualidade, numa espreita que não demonstra nenhuma ligação entre fotógrafo e fotografado. Já em "I´ll Be Your Mirror" vemos uma relação íntima, mas não invasiva. Thomas foi convidado a entrar na intimidade de cada um e ele sai de lá com um resultado realmente único e raro", disse.

Godoy foi a pessoa que trouxe "I'll Be Your Mirror", o primeiro trabalho de Dozol exposto no Brasil, depois da série ter passado por Nova York e Atlanta.

Fonte: Colherada Cultural

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Filme: We All Want to Be Young



Dica da Milena Godolphim

Lula vira personagem de história em quadrinhos

A vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ser narrada em uma história em quadrinhos biográfica. Em 48 páginas, as ilustrações percorrerão os principais episódios da vida de Lula, desde sua infância em Caetés (PE), até o final de seu mandato presidencial.

De acordo com a editora Sarandi, responsável pela publicação que recebeu o título Luiz Inácio Brasileiro da Silva, a história começa com a declaração do presidente americano Barack Obama feita na cúpula do G20 em Londres no ano passado, quando ele disse que: "esse é o cara", referindo-se a Lula como "o político mais popular do mundo". Com esse episódio como gancho, a história de Lula ganha vida, como suas origens, a experiência como torneiro mecânico, a ascensão nos sindicatos e a fundação do PT, com o qual chegaria à chefia do Estado nas eleições de 2002.

O roteiro do livro é de Toni Rodrigues, autor de publicações infantis, e as ilustrações do argentino Rodolfo Zalla, renomado editor de histórias em quadrinhos dos anos 1980.

No final das 48 páginas, uma mensagem assinada pelo próprio Lula diz que sua história "representa os milhões de brasileiros anônimos que ainda não tiveram oportunidades".

A história em quadrinhos chegará às bancas nas próximas semanas com uma tiragem inicial de 37 mil exemplares, a R$ 4,95. Outras personalidades que marcaram o Brasil também devem ganhar versões em quadrinhos.

Fonte: Terra

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Navio-auditório e classe média “espontânea”

por Ilana Feldman

Em Pacific (2009), desconcertante filme de Marcelo Pedroso, o diretor organiza narrativamente, por meio da montagem, imagens domésticas captadas por passageiros do cruzeiro Pacific, cujo trajeto, de Recife à ilha de Fernando de Noronha, promete realizar os sonhos de consumo, entretenimento e excitação permanentes de uma classe média à vontade, “espontânea” e emergente. Performando-se para as suas próprias câmeras, construindo-se para as suas próprias imagens, os passageiros de Pacific, como quaisquer turistas, colecionam e acumulam experiências, sensações e imagens-síntese de uma passageira vida-lazer, adquirida a suadas prestações do cartão de crédito.



“Que nossos queridos passageiros tenham todos mais um excelente espetáculo!”, diz, para a platéia de passageiros com filmadoras em punho, o apresentador do navio-auditório, onde não pode haver tempo morto nem pausa, observação distanciada nem contemplação passiva. Na vida-lazer do navio-auditório que o filme Pacific nos apresenta (de outra ordem daquela desejada pela prostituta de Viajo porque preciso, volto porque te amo), é preciso ser permanentemente interativo, participativo e colaborativo. Pois a vida-lazer aqui, seja encenada para si, encenada para o outro ou encenada para nós – ainda que à força do deslocamento dessas imagens, que deixam de habitar o âmbito da privacidade para tornarem-se publicidade –, em realidade, é uma vida-trabalho.

O filme é interessantíssimo e fundamental para pensarmos, entre outras questões, a relação entre imagens amadoras, performance e produção subjetiva (em meio a um "navio auditório" habitado por uma classe média "espontânea"):

domingo, 7 de novembro de 2010

Rainha britânica Elizabeth II estreia segunda-feira no Facebook

A rainha britânica Elizabeth II estreia nesta segunda-feira uma página oficial na rede social virtual Facebook, oferecendo a seus fãs atualizações diárias sobre seus compromissos, disse a casa real neste domingo. A monarca de 84 anos estará em vídeos, fotos e em notícias em sua página, disponível a partir de amanhã, junto à pagina de outros membros da família real, incluindo os príncipes William e Harry.

Os usuários do Facebook poderão enviar mensagens para o Palácio de Buckingham, deixar comentários na página da rainha e encontrar detalhes sobre os eventos reais. Entretanto, como as contas serão empresariais e não pessoais, os usuários do Facebook não poderão se tornar amigos da rainha.

A entrada da rainha no Facebook é sua mais nova incursão social na mídia virtual. A família real já possui uma conta no website de fotografias Flickr, no Twitter e, em 2007, lançou um canal de vídeo no Youtube.

O Palácio de Buckingham lançou seu próprio website em 1997, que atualmente permite aos visitantes buscar emprego no palácio, acompanhar a família real pelo Google Maps ou ler detalhes sobre os premiados cães corgi da rainha em uma seção devotada a eles. As informações são da Associated Press.

Fonte: JC Online

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vida e casamento de Saramago são temas de "José e Pilar"

Mesmo sendo um documentário, "José e Pilar" é um dos filmes mais românticos a que se pode assistir -- porque a força do amor de mais de duas décadas entre o escritor português José Saramago (falecido em junho de 2010) e a jornalista espanhola Pilar Del Río afirma-se pela capacidade que o diretor português Miguel Gonçalves Mendes mostra ao capturar momentos qualificados desse relacionamento.

Coprodução entre o Brasil, Espanha e Portugal, o filme entra em circuito nacional. Todos conhecem, mal ou bem, alguma coisa sobre o José Saramago vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1998 -- único, até agora, para a língua portuguesa --, autor de livros como "Memorial do Convento", "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "Ensaio sobre a Cegueira" (levado às telas do cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles, um dos produtores deste documentário), "o Evangelho segundo Jesus Cristo", "Caim", e tantos outros.

O homem sincero e humanista que despertava polêmica em alguns círculos por sua completa adesão ao ateísmo e ao esquerdismo. Convicções essas que levaram não poucos a dirigir-lhe cartas assustadoramente agressivas -- como uma mencionada no filme, em que uma pessoa "lamenta que não exista mais a inquisição, para vê-lo arder em praça pública numa fogueira".

Nem todos conhecem tão bem quanto este documentário permite agora o caráter de Pilar Del Río, que emerge das imagens muito maior do que a mera "mulher atrás do grande homem".

Personalidade forte, tão franca e engajada quanto o marido, Pilar mostra-se uma interlocutora à altura de Saramago, com quem ele discutia todos os assuntos. Uma conselheira para todas as horas, com capacidade de discordar dele furiosamente -- como se vê numa conversa entre os dois, na casa de amigos, sobre as então iminentes eleições norte- americanas, ele a favor da candidatura de Barack Obama, ela defendendo com unhas e dentes Hillary Clinton, que então disputava com o hoje presidente a indicação pelo Partido Democrata.

Seja na paisagem de beleza selvagem da ilha de Lanzarote, onde o casal viveu nos últimos anos, seja viajando pelo mundo, é possível compartilhar a rotina fértil e frenética do escritor e da jornalista -- que traduzia para o espanhol os livros do marido, quase simultaneamente à sua escritura.

Para Pilar, numa declaração singularmente esclarecedora de sua natureza, "cansaço não existe". Por isso, ela e Saramago aceitavam tantos convites para palestras, congressos e o acompanhamento de algumas adaptações de sua obra em outros meios.

Duas destas viagens comprovam o enorme alcance da obra do autor português -- uma ópera na Finlândia, sobre personagens tirados de "Memorial do Convento"; e uma peça no México em torno de "As intermitências da morte", em que Saramago contracena, no próprio papel, com o ator Gael García Bernal.

Uma conversa com Bernal e diversos lançamentos de livros permitem testemunhar alguns comportamentos espantosos diante da celebridade, este um inquietante mal de nossos tempos. Os mais constrangedores estão nos pedidos exóticos dos fãs do escritor. O mais estranho deles, talvez, o de um jovem brasileiro, que pede a Saramago que lhe desenhe um hipopótamo no livro que está para autografar.

Por Neusa Barbosa, do Cineweb

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fotógrafa expõe na rede a intimidade dos maiores nomes da música da geração 00


Dedicada a fotografar bandas há dez anos, Caroline Bittencourt vem montando, pouco a pouco, uma coleção com os mais importantes nomes da geração 00 da música brasileira. Num passeio por sua página no Flickr , você encontra cliques de Cidadão Instigado, + 2, Céu, Mombojó, Hurtmold, Mallu Magalhães, Los Hermanos, Marcelinho da Lua, Nina Becker e toda a Orquestra Imperial, Do Amor, Nação Zumbi, Cibelle... Sem falar na penca de shows estrangeiros que passam por sua São Paulo.

Frequentadora dos porões de shows alternativos dos anos 90, a brincadeira começou quando fotografou seu grande amor musical, a banda americana Fugazi, em 1994, com a câmera emprestada do pai. Aos poucos, foi construindo uma relação de amizade com os fotografados, o que influi diretamente no resultado do seu trabalho. Seus retratos têm uma atmosfera intimista, de cumplicidade, fazendo com que muitas vezes Caroline consiga imagens impagáveis dos artistas mais retraídos: registros de Kassin maquiado como um dos músicos do Kiss, Pitty à vontade em casa e outros momentos muitas vezes reservados para os mais chegados.

A impressão não é à toa, Caroline realmente se tornou amiga de muitos do seus retratados e hoje não é raro ela ser escolhida pelas próprias bandas para seus registros oficiais. Muitos dos trabalhos são encomendas dos próprios artistas, fotos para serem distribuídas para a imprensa e utilizadas na divulgação de discos e shows. Quanto mais esses artistas se estabelecem, maior fica o valor artístico da moça. Com o fim do monopólio das gravadoras na construção de ídolos e a quantidade de artistas espalhados pela rede, fica difícil enxergar o que é relevante e sobreviverá ao infalível teste do tempo. Mas Caroline tem a mira precisa.

Fonte: Jornal O Globo