domingo, 12 de dezembro de 2010

Quero ser um BBB! por Camila Araujo

O Reality Show foi criado para simular uma realidade. Parte-se do princípio que o programa não possui roteiro a ser seguido pelos participantes e o intuito é disponibilizar para os telespectadores como essas pessoas agem em um espaço limitado, como resolvem os problemas, os conflitos da convivência. Um exemplo bem conhecido é o Big Brother Brasil que fez tanto sucesso e atrai tantos olhares, que já está em sua 11ª edição. O entretenimento desses telespectadores é a reação dos confinados no dia-à-dia. O programa se limita a isso, as pessoas gostam de ver como as outras agem em situações consideradas difíceis.

Na sociedade espetacularizada em que vivemos a visibilidade é o intuito da maioria. Não importa a forma como você fica famoso, o que importa é ser famoso. Os 15 minutos de fama é extremamente importante e percebemos isso nos milhares de vídeos que são enviados para participar de cada reality show. As pessoas não possuem a menor vergonha de se exporem para conseguirem o que querem. Não existe mais uma diferença entre público e privados, os dois estão imbricados. A preocupação com o abafamento de uma suposta essência em troca da visibilidade não parece mais preocupar.

Com a web 2.0 o caminho para a fama ficou muito mais fácil. Todos podem colocar qualquer coisa na internet, o site Youtube é a principal porta para essas subcelebridades. Seja por talento ou por bizarrice, o indivíduo pode ser conhecido e receber vários acessoas nos seus vídeos. O que importa é mostrar o eu autêntico e real, ou supostamente real.

Como o slogan “Broadcast yourself” do youtube já diz, as pessoas querem cada vez mais mostrar-se a si para a massa consumidora da vida dita privada.

Realidade no ‘Edifício Master’ por Carolina Carrinho

Edifício Master’, um filme documentário dirigido pelo cineasta Eduardo Coutinho, retrata o cotidiano dos moradores de um prédio situado em Copacabana. Filmado em quatro dias, o filme consegue extrair histórias íntimas e reveladoras de vida dos seus habitantes.

A magia do documentário está em retratar a vida de pessoas comuns da classe média brasileira. Porém esse não é apenas mais um filme no estilo ‘reality show’, em que há uma necessidade pela busca da verdade, uma realidade extremamente ficcionalizada. Segundo Eduardo Coutinho, não importa se o que seus personagens falam no filme é verdade ou não, mas sim que eles consigam contar boas histórias, criar narrativas interessantes. Não aparece uma luta pela imediação, a todo o momento sabemos que existe uma câmera, e que os entrevistados também têm consciência dela, o que muda completamente a experiência da fala.

Em uma época que o indivíduo luta por visibilidade e fama, que quanto mais realista e ‘ao vivo’ for a obra, melhor, Eduardo Coutinho mostra o valor da ficção. O cineasta faz o caminho inverso, ele não recorre a ficção para retratar o real, mas sim um real que recorra a ficção. Por se tratar de um filme com não atores, personagens comuns, pode-se ter a idéia de que o relatado dos moradores do prédio é a absoluta verdade, que eles não estão interpretando. O cineasta nos mostra que é ao contrário, eles são personagens reais interpretando personagens para câmera, para o próprio Coutinho e para eles mesmos.

Em uma das tentativas de encontrar boas narrativas, a equipe de gravação encontra Daniela, que vai se mostrar uma das personagens mais interessantes e intrigantes do documentário. Eduardo Coutinho vê nela uma boa oportunidade de conseguir uma história em potencial, e a entrevista acontece em dois blocos, um com a equipe de filmagem e outra com o próprio cineasta.





O modo como o filme é editado e a maneira como as perguntas são feitas, ora Coutinho aparecendo em primeiro plano, outras vezes editado até sua fala, nos mostra a intenção do diretor em deixar claro que está fazendo uma ficção, e que usa os habitantes do edifício para montar personagens.

Celebridades do mundo virtual por Carolina Carrinho

Felipe Neto virou uma celebridade do mundo virtual gravando vídeos no YouTube. Sempre polêmico, falando de assuntos atuais, tenta ser um anti-herói do ciberespaço. Exibindo sua imagem, cria um personagem irônico e contestador, Felipe Neto reclama principalmente do exibicionismo. Um pouco contraditório.

No episódio em questão seu personagem fala de ‘Putaria pra aparecer’, jovens que fazem de tudo para ter os seus 15 minutos de fama. Essa necessidade da visualização, onde o que não aparece não é.

Neto mostra a sua personalidade na mídia, expõe sua opiniões, reclama de fãs que o perseguem, praticamente discrimina o meio pelo qual alcançou o sucesso. Ainda no final no vídeo pede apoio ao público para ter mais visualizações no YouTube.

Assim como Felipe Neto, os autores desse mundo espetacularizado precisam desse apoio público, pois ele confirma a subjetividade do autor, a celebridade se autolegitimiza, e acaba sendo o próprio espetáculo.

Confissões Online Anônimas por Michelle Lorient Vasconcellos

As mudanças atreladas ao desenvolvimento tecnológico e social tornou o homem ocidental um sujeito confessando e confidente transformando a exposição em sinônimo de singularidade e de existência. Visando tornar algo íntimo público, um site chamado Eu Confesso propõe que o usuário "confesse" as suas angústias, alegrias, receios, medos etc. O site garante que eles são a única ferramenta na internet onde qualquer um pode confessar o que quiser além de preservar o anonimato da confissão. Muitos são os meios e os instrumentos de confissão na internet, mas o sucesso desse site deve-se pelo fato do anonimato.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Confissões de uma primeira pessoa do singular desabituada por Charline Scaldini

Ao tomar conhecimento de que um post para o blog seria obrigatório, me surpreendi com minha falta de intimidade com esses aparatos disponíveis para qualquer pessoa que queira compartilhar qualquer assunto com qualquer um de qualquer maneira. Especialmente no caso do blog, visto que, no meu entender, seu objetivo seja acima de tudo expor o que está oculto nas densas brumas da interioridade do autor, e, posteriormente, ser lido. Confesso que nunca escrevi em um blog antes, nem nunca tive fotolog e afins. Confesso que esse “afins” é pra expressar minha falta de familiaridade com essas ferramentas que mudam antes que eu aprenda para que servem e desfrute de suas peculiaridades. Confesso que embora não seja do time das pessoas atadas ao século XX, que rejeitam os benefícios dos inúmeros instrumentos oferecidos pela tecnologia, ainda envio cartas pelo correio e tenho relutância em ser lida, ser vista e ser comentada na rede. Mas não é fácil. Essa rede vem se tornando cada vez mais complexa e envolvendo a todos, que se introduzem nela seja deliberadamente ou por imposição do trabalho , faculdade ou convívio social. E quem ainda resiste aos feitiços dos dispositivos midiáticos e vê com objeção a exposição do eu por meio do twitter, do facebook e afins corre o risco de ser considerado anacrônico, talvez até estigmatizado, nunca se sabe. Confesso, enfim, que não sei o que deve ser escrito para ser tido como interessante e digno de ser comentado. Talvez poucos saibam. Confesso que a falta de ideia para um post decente acerca de algo que pudesse despertar algum interesse me impeliu a algo mais prosaico: faço uso desse post debutante para me inserir nas técnicas de escrever um diário em um meio público, com a possibilidade de ser lida. Aliás, descobri a existência de sites que encorajam internautas a confessar seus pecados anonimamente, incluídos o perdão e a sentença, feitos pelos leitores. Confesso que escrevi por lá.

Apelo Realista em MeuReality.com por Marília Dias



Mais uma vez vemos o espetáculo operar sobre as pessoas. Um casal resolveu filmar um ano de sua vida e disponibilizar na Internet, para quem quiser ver. Keymi e Carol expõe sua intimidade através de um blog e um canal no Youtube . O nome dado ao projeto não poderia ser mais conveniente: Meu Reality. Além de fazer alusão a um dos formatos televisivos de mais sucesso da atualidade, Meu Reality também brinca com o fetichismo dos que gostariam de participar. O projeto representa o “eu” num reality show, aquele casal poderia ser qualquer um de nós, o Meu Reality poderia ser feito por você. O realismo-naturalista é a explicação para os milhões de acessos do canal.

A cada dia mais as imagens caseiras e “reais” ganham espaço na mídia e a Internet é uma ferramenta fundamental para essa tendência. Buscamos o máximo de proximidade com o que gostamos de chamar de realidade, e nos envolvemos como tal.. O envolvimento do público parece ser muito importante para o casal, é como se eles estivessem prestando um serviço e sendo recompensados através do reconhecimento dos espectadores: “Keymi e sua namorida Carol decidiram fazer um Reality Show de suas próprias vidas e durante 365 dias vocês poderão acompanhar suas aventuras e participar diretamente comentando e enviando mensagens. Participe !"A exposição não é novidade para essa família, antigamente o Keymi produzia conteúdo para um outro canal do Youtube, que ele batizava de Keymishow. Não se sabe ao certo se eles estão sendo completamente espontâneos nesses registros ou se é apenas mais uma performance. É possível que eles estejam apenas saciando a nossa sede pelo real. Se é a precariedade das produções caseiras que nós buscamos, é o que teremos.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Mães colocam crianças em "Baby Brother" na internet; especialistas criticam

Meu primeiro maiô. Dois meses. Três meses. Minha primeira boneca. Tentando bater palma. Minha primeira praia. Primeira Páscoa.

É publicando textos com esses assuntos em um blog que a técnica em telecomunicação Viviane Trupel, 29, quer guardar momentos da infância de sua filha.

Assim como ela, muitas outras mães, e pais, fazem o mesmo: divulgam na internet, com textos, fotos e vídeos, informações íntimas de seus filhos recém-nascidos.

Se, por um lado, deve ser bom ter registrados momentos que normalmente não lembramos, por outro, gera uma superexposição, criticada por especialistas.

Além da segurança, eles falam da questão psicológica, já que depois a criança pode achar ruim a divulgação de sua vida na internet.

"Qualquer evento do desenvolvimento da criança, sempre que colocado em ambiente público, como a internet, dá margem a que outras pessoas tenham acesso", afirma Aderson Costa, professor do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da UnB.

Costa cita "situações de gozação" e associadas ao bullying. "A rotina da criança não deve ser disponibilizada em ambiente público em hipótese alguma", diz.

Mas, como no caso de Viviane, os pais só pensam em registrar todos os momentos. "Minha ideia era fazer um álbum do bebê para mostrar para a família", diz a mãe.

Ela conta que, como a página é pouco visitada, não se preocupou em invadir a privacidade da filha, hoje com um ano e cinco meses.

COMO UM DIÁRIO

A mãe Giovana Reobol, 35, afastada do trabalho por motivo de saúde, pensa no blog de seu filho como um diário. "Acho que tem mais ponto positivo que negativo", diz ela, que já teve cerca de 200 mil acessos desde o início da página, há cerca de três anos, quando engravidou.


Luciana Rufo, do Departamento de Psicologia da USP, questiona a prática. "Por que essa mãe alimenta essa necessidade? Se a ideia é fazer um diário, ele não tem que ser público. Antigamente diário tinha até chave."

"A criança vai crescer possivelmente achando que é bom expor a própria intimidade, porque ela dá valor ao que os pais valorizam", afirma Luciene Paulino Tognetta, pedagoga e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unicamp e da Unesp.

E não é só isso. Segundo ela, "a mãe não só ensina que é bom se expor, como impede que essa criança saiba guardar aquilo que é intimo. E quem não se respeita possivelmente não respeita a intimidade dos outros".

Fonte: Folha.com

Dica da Nayara Matos

Sobre as possibilidades de um corpo visível por Ana Carolina Frota

O corpo feminino lido pelo seu avesso.
Delicadeza e pungência na obra de Clotilde Lainscek


O texto do site acima trabalha sobre a questão da representação do corpo feminino na arte, levantando questões sobre subjetividade, intimidade e visibilidade.

Daniela Versiani mostra como a artista contemporânea Clotilde Lainscek apresenta uma alternativa para escapar da exposição excessiva na sociedade atual, que mais objetifica e menos permite a visibilidade. Através de uma representação não-realista e esvaziada, em que há um discurso subjetivo que recai sobre as marcas e experiências de um corpo – ausente em materia, invisível ao espectador, mas presente em potência e discurso– , a artista permite a emergência de um possível "sujeito-corpo-feminino".

Em uma sociedade espetacularizada e somatizada, na qual narcisos só se formam no espelho, a imagem é necessária para afirmação e formação subjetiva, ao passo que o corpo, matéria individual e singular, é saturado ao máximo pelo espetáculo. Em uma época de pulverização das fronteiras entre real e ficção, público e privado, os rostos que anteriormente proporcionavam a emergência de uma subjetividade interiorizada, hoje se tornam matéria visível identificável e espalham-se por toda a superfície do corpo.

Os auto-retratos, tão recorrentes, se inserem como veículos de visibilidade e construção de imagem pessoal, mas tendem a limitar-se nos formatos pré-produzidos pelas mídias. As máscaras estão prontas, formadas. São modos de se fazer visível, em forma e ação, e que fazem parte de identidades para o consumo. As representações não se abrem à potência da cena, elas são escolhidas e adaptadas e, quando não mais servem, são trocadas por outras. Nesses moldes, cabem personalidades de reality shows, personagens auto-biográficos, amadores produtores de imagens de si em blogs, fotos, vídeos e demais formas de se mostrar.

A proposta da artista Clotilde Lainscek é ultrapassar a impregnação do corpo, é permitir a subjetividade através do risco de não existir. Com uma representação do corpo que parte de um discurso (a peça de roupa íntima e as palavras) e não de um referente realista, a artista propõe ao espectador que entre e participe de sua formação. A cena é aberta para que máscaras sejam forjadas naquele espaço. O corpo só existe em relação e é pura imagem. Sua visibilidade é formada pela memória do espectador, por todas as representações anteriores, por informações tidas como válidas, por desejos, por tudo aquilo que possa agir sobre ele e que o torna único, singular, possível.

Esse retrato, forjado por um discurso-dispositivo que tenta relacionar-se com o real por via de uma fissura no espetáculo pré-moldado e não por representações, permeia a arte contemporânea como forma de ruptura com os sistemas de poder do Controle (DELEUZE, 1992) e do Espetáculo (DEBORD, 1997). No cinema mais recente, por exemplo, filmes documentários como “Jogo de cena”, de Eduardo Coutinho, ou “Pacific”, de Marcelo Pedroso, ou ainda na ficção de filmes como os de Pedro Costa, trabalham de diferentes maneiras as possibilidades do corpo na cena fílmica.

Esses filmes exploram a idéia (presente na obra de Lainscek) de inserir os corpos espetacularizados em relação com o tempo, com o espaço, com outros corpos, em sua própria ação de construção. Os sujeitos imagetizados a priori são flagrados em construção e, entre uma máscara e outra, existe a possibilidade de algo inesperado pelo próprio filme, mas que só existe naquele instante, naquela situação, experenciada naquela cena.

Ao que parece, a arte contemporânea tem buscado uma outra forma de acesso ao conhecimento e a experiência de real após a saturação dos discursos realistas. Junto a essa busca, incorre o interesse sobre essa matéria de experiência que é o corpo, parte da condição humana mais aparente, que sofre e exerce ações visíveis de suas determinantes. Essas experiências, que trabalham com as possibilidades oferecidas pelas relações (que são múltiplas e indeterminadas) e que se permitem ao risco do desconhecido, jogam com a percepção e com a inscrição do espectador na obra.

Com a abertura da cena (desejada por Comolli no ensaio “Sob o risco do real”), essa arte propõe não uma absorção de imagens feitas para um outro fechado (alter-dirigida - segundo Riesman), mas um jogo em que a imagem é resultado de uma relação complexa, imprevisível e arriscada. Em cena, os corpos dos autores, dos personagens e dos espectadores são expostos à experiência da imagem como local de construção de subjetividades e de possibilidades.

COMOLLI, Jean Louis. Ver e poder - cinema, televisão, ficção, documentário. BH: editora UFMG, 2008.
DELEUZE, Gilles. “Controle e devir”; “Post-scriptum sobre as sociedades do controle”. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo; Comentários sobre a sociedade do espetáculo. 2ª reimp. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
RIESMAN, David. A Multidão Solitária. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1995.

Diários íntimos ficcionais: uma contradição da sociedade do espectáculo? por Thiago Fernandes

Ana Cristina César foi uma poetisa brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 1952, que pertenceu a um grupo de poetas muito importantes para a poesia brasileira contemporânea, revolucionários da linguagem, os chamados “poetas marginais” ou “geração mimeógrafo”. Apesar de sua vida ter sido muito curta – Ana C. suicidou-se aos trinta e um anos de idade – ela deixou um legado significativo para as letras brasileiras.

Em 1979, Ana C. lança um livro chamado Correspondência Completa, em que reproduz o que seria uma espécie de diário, assinado por uma fictícia Júlia, contendo passagens absolutamente cotidianas de uma vida normal, com os sobressaltos comuns à vida de qualquer pessoa: questões sexuais, afetivas, simples relatos de idas ao cinema. Se, por um lado, nota-se nessa atitude uma tentativa – diga-se, muito eficaz – de dessacralizar a linguagem literária, tornando o que seria um prosaico diário numa obra de literatura do mais alto nível, por outro lado pode-se compreender a obra sob a perspectiva da espetacularização da intimidade, comparando-a até mesmo aos blogs, diários íntimos de cuja veracidade pode-se sempre duvidar, que hoje infestam o meio literário virtual.

Paula Sibilia, em seu livro O Show do Eu: a intimidade como espetáculo, analisa a escrita de cartas e diários sob o olhar do espetáculo, ressaltando as diferenças entres os diários íntimos antigos e os que agora são publicados online. Para tal, Paula chega a citar Ana Cristina César, quando esta afirma que “Do ponto de vista de como nasce um texto, o impulso básico é mobilizar alguém, mas você não sabe direito quem é esse alguém; se você escreve uma carta sabe; se escreve um diário, sabe menos”. E Paula completa as palavras de Ana: “Em sua imensa maioria, porém, o mais provável é que esse misterioso alguém fosse apenas alguma faceta do obscuro eu de cada autor-narrador-personagem”.

O mais interessante, no caso do Correspondência Completa, de Ana C., é que os diários são completamente inventados, mas carregam em sua forma efeitos de realismo que o aproximam, enquanto linguagem, à conhecida estética dos diários íntimos, fazendo, a meu ver, aumentar o interesse por sua leitura, uma vez que os leitores do final dos anos 70, quando foi publicado o livro, já começam a demonstrar sua avidez por consumir realidade, ainda que de forma indireta.

Afinal, que outro interesse, senão pela realidade-a-qualquer-preço, poderiam despertar passagens como a que reproduzo abaixo, que constam do livro?

30 de agosto

Hoje roí cinco unhas até o sabugo e encontrei no cinema, vendo

Charles Chaplin e rindo às gargalhadas, de chinelos de couro,

um menino claro. Usei a toalha alheia e fui ao ginecologista.

9 de setembro

Tornei a aparar os cachos. Lúcifer insiste em se dar mal comigo;

não sei mais como manter a boa aparência. Minha

amiguinha me devolveu a luva. Já recebi o montante.

28 de agosto

Dia de festa e temporal. Aniversário da Tatiana. Abrimos os

armários de par em par. Não sei por que mas sempre que se

comemora alguma coisa titio fica tão apoplético. Acho que

secretamente ele quer que eu... (Não devia estar escrevendo

isto aqui. Podem apanhar o caderno e descobrir tudo.)

resenha sobre o filme "A rede social" por Leticia Xavier

O objetivo inicial de Mark Zuckerberg era ser aceito em um grupo, uma aspiração comum entre qualquer pessoa da sociedade atual. Com personalidades evidentimente alterdirigidas, voltadas por e para os outros, a vontade ser aceito em determinado grupo é uma das principais características dos indivíduos contemporâneos.

Com esse objetivo, o fundador do facebook queria um espaço onde as pessoas pudessem compartilhar seus dados e fatos importantes das suas vidas. Uma espécie de rede social online onde os estudantes de universidades do mundo todo pudessem interagir e mostrar aos outros quem realmente são.

O filme retrata 2 episódios diferentes, que, porém, estão interligados. O primeiro deles é a motivação de Zuckerberg e a maneira como surgiu a ideia de montar o antigo “thefacebook” à partir da sua primeira rede, o facemash, onde os alunos de diversas universidades dos Estados Unidos faziam uma espécie de ranking das alunas mais bonitas. O segundo episódio é o fato de Mark ter sido processado por algumas pessoas: seu ex-melhor amigo Eduardo Saverin, cofundador da rede e três alunos de Harvard que acusam Mark de roubo de propriedade intelectual.

O filme expõe situações íntimas do protagonista, inclusive fatos sobre o que ocorreu entre ele e seu ex-amigo Eduardo. É possível, também, afirmar que no filme utilizam da confissão, como método de produção de verdade, nos momentos em que ambos se encontram no tribunal e narram os fatos ocorridos, durante o processo.

A verdade é que, uma ideia que surgiu para impressionar uma ex-namorada e para fazer parte de um grupo resultou na maior rede social do mundo.

Luz, câmera, sexo por Luana Furtado

Produzir e enviar fotos sexy de si mesmo para parceiros amorosos está virando moda que ganhou até nome: sexting



Matéria publicada da revista Gloss da editora Abril, em julho de 2010, relata um dos fenômenos que vem crescendo bastante nos últimos anos e que foi gerado pela grande exposição das pessoas nas redes sociais: sexting. O nome “sexting” é baseado em uma junção de palavras, oriundas dos radicais “Sex” (sexo) e “Ting” (sufixo de texting), exatamente por essa origem histórica do “sexo por mensagens de texto”. Apesar de atualmente os conteúdos terem se tornado menos textuais e mais imagéticos, o nome manteve-se. A facilidade de tirar fotografias e o acesso à internet pode levar um grande número de adolescentes a praticar sexting que fazem uma verdadeira competição por números de acessos às suas fotografias. A princípio, tudo começou na troca de fotos sensuais entre namorados pelo celular, mas com o tempo ganhou dimensão maior, com o compartilhamento desse material entre amigos e até mesmo a publicação em sites abertos à visitação de qualquer um.

A matéria cita pessoas anônimas e até celebridades que sentem prazer em se expor em cenas íntimas para o público virtual. Pesquisa realizada nos Estados Unidos por uma ONG organizadora da Campanha Nacional para Prevenção dos Jovens e Gravidez Não Planejada comprovou que, entre os jovens de 20 a 26 anos, um terço já praticou o sexting.

Um caso bastante conhecido de sexting foi o “lançamento” de Paris Hilton na mídia. A socialite se tornou famosa graças a um vídeo caseiro em que aparecia em cenas de sexo com um namorado e que foi publicado na web. Outros famosos também tiveram sua imagem em cenas intimas publicadas nas redes sociais, como o caso da modelo Daniela Cicarelli que teve um vídeo publicado no YouTube com cenas que foram filmadas enquanto praticava sexo em uma praia pública da Espanha, a modelo Fernanda Lima que teve um vídeo publicado na internet com cenas da sua intimidade com o seu marido também modelo Rodrigo Hilbert e o caso da ex-BBB Maíra Cardi, que teve um vídeo em situação muito íntima com o ex-marido transmitido na internet após seu celular ter sido roubado.

A matéria também menciona o livro O Show do Eu – A Intimidade como espetáculo, de Paula Sibilia, que cita que o principal objetivo das estilizações do eu consiste precisamente em conquistar a visibilidade. De acordo com Foucault, “o discurso sobre o sexo, já há três séculos, tem-se multiplicado em vez de rarefeito”. Essa incessante busca pela visibilidade e pela ambição de fazer do próprio eu um espetáculo, pode ser também uma tentativa de satisfazer um velho desejo humano: afastar os fantasmas da solidão.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo brasileiro André Lemos sobre o surgimento dessas novas ferramentas de auto-expressão na internet, “a vida privada, revelada pelas webcams e pelos diários pessoais, é transformada em um espetáculo para curiosos, e este espetáculo é a vida vivida na sua banalidade radical”.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Nine Eyes, de Jon Rafman por Amanda Cinelli


Nine eyes é o nome do projeto visual em que um artista canadense, Jon Rafman, faz faz screen captures e amplia imagens cotidianas e inusitadas capturadas pelo Google Street View. Hoje, este projeto já passou por pequenas galerias e no New Museum de Nova York, além de ter se transformado em livro, "16 Google Street Views.

O processo para seleção das imagens é aparentemente simples, mas requer dedicação e concentração. John pesquisa às vezes por 6 ou 12 horas em busca de imagens no aplicativo. As imagens podem retratar tanto momentos simples do cotidiano quanto podem ser uma combinação dos efeitos tecnológicos do programa, como as setas para localização ou o efeito borrado do rosto de certos passantes - que segundo ele dá um efeito digital único. Elas possuem uma beleza inesperada e também momentos cômicos e irônicos.

Nas palavras do artista, "o mundo capturado pelo Google parece ser mais verdadeiro e transparente por causa do peso atribuído a realidade externa, a percepção de uma gravação neutra e imparcial, e até mesmo a imensidão do tipo de projeto."

Percebemos com essa declaração está carregada de conceitos do homem alterdirigido e, também, do realismo como gênero contemporâneo, já que coloca nossas vidas em posição central na arte e na ficção criada a partir das interpretações do público quanto as fotografias. Afinal, as fotos espontaneas e livres são retiradas de qualquer contexto social ou geoespacial se tornando fragmentos da realidade com diversas possibilidades de interpretação e fora de qualquer intenção cultural pré-estabelecida.

Ainda no ensaio elaborado por Jon Rafman ele diz: "Uma imagem do Street View pode nos dar uma noção do que é a sensação de ter tudo gravado, mas nenhum significado especial atribuído a qualquer coisa."

O artista mantém um tumblr com grande parte das imagens selecionadas do projeto.

Real fictício x Ficção Realista por Laís Rodrigues Nunes

A estética realista consiste em inventar ficções que pareçam realidades. O autor de novelas da Rede Globo, Manoel Carlos, é conhecido por escrever novelas fazendo uso do “efeito de real”, para que o público se engaje com suas personagens e, assim, sua pedagogia moralizante seja eficaz.

Em muitas de suas novelas, Manoel Carlos trabalhou questões polêmicas do mundo real como enredo principal. Em “Por Amor”, Helena, ao ver que seu neto morreu e que sua filha não poderia engravidar novamente, finge que seu filho recém-nascido é o filho de sua filha. Em “Laços de Família”, é trabalhada a questão da leucemia e, uma nova personagem é inserida na novela para morrer em virtude desta doença, para que o fato da personagem principal, Camila, não morrer não fique inverossímil. Entretanto, o melhor exemplo da busca de Manoel Carlos por tornar as suas novelas verossímeis é “Páginas da Vida”, exibida pela Rede Globo no ano de 2006. Nesta novela, foram apresentados, durante a trama, diversos elementos que remetiam à realidade, como o ataque às Torres Gêmeas em 2001, a abertura da cratera do metrô de São Paulo (2006) e a tragédia do menino João Hélio (2006).

Por outro lado, na Sociedade Ocidental Contemporânea, há um anseio pelo real espetacularizado, em outras palavras, há um desejo pela ficcionalização do real, pois o real “puro” é chato, não tem graça. Pode-se perceber essa tendência nos reality shows.

“8th & Ocean” é um reality show exibido pela MTV em 2006, que apresentava a rotina de jovens modelos, que moravam em Miami, entre a vida profissional e a convivência entre eles, porque as meninas dividiam apartamento entre si e, os meninos dividiam outro apartamento. Como característico dos reality shows, a edição de “8th & Ocean” fazia uma construção de personagens típica de uma novela das oito. Entre outras personagens, havia a menina ingênua do interior que se recusava a ser fotografada seminua e, era apaixonada por um dos modelos. Este também gostava dela, mas não resistia aos encantos de outra modelo, que, inicialmente, não morava com as outras meninas. Pode-se identificar, claramente, neste triângulo amoroso, a mocinha, o mocinho e a vilã. Além disso, irmãs gêmeas também moravam na casa e, a relação entre as duas e as diferentes atitudes delas faziam com que o público identificasse uma como a gêmea boa e outra como a gêmea má.

Pode-se perceber por essa construção de personagens dos reality shows, a necessidade que o público tem de polarizar o bem e o mal, para poder se identificar com os representantes de um dos polos e se engajar com eles. No caso das ficções, é preciso que elas tenham elementos reais, para que o público se sinta mais perto da história e assim possa se engajar também. A conclusão a que se pode chegar a partir dessa ficcionalização do real e da ficção construída com elementos reais é que há uma necessidade de espelhamento do sujeito contemporâneo (o que remete à “identidade prêt-à-porter”) e que não se pode identificar claramente o que é real e o que é ficção, só se pode problematizar essas questões.

My Life Bits por Paula Goulart

Desde 2001, Gordon Bell e Jim Gemmell, dois dos maiores pesquisadores da Microsoft, vêm trabalhando no projeto MyLifeBits. Registrando todos os momentos da vida de Bell a partir de uma microcâmera em seu pescoço, o projeto tem por objetivo o desenvolvimento de uma tecnologia que permita o armazenamento de todas as memórias de uma pessoa.

A partir disto, seria possível, entre outras coisas, consultar informações já esquecidas, reviver momentos passados, desvendar crimes e, o mais fílmico de todos: conversar com o avatar de uma pessoa morta. Através das memórias armazenadas de determinado indivíduo, seria criada uma projeção de sua imagem que, mesmo depois de sua morte, consultaria as informações disponíveis em sua memória digitalque, a partir de sua bagagem sócio-cultural, conversaria com seus familiares, amigos, dar conselhos aos netos.

Para o futuro, os pesquisadores já pensam em como essas microcâmeras se aclopariam ao corpo humano; através de adereços como broches, colares, anéis, pingentes ou mesmo lentes de contato, quase imperceptíveis ao próprio olho humano.

A memória digital também teria boas repercussões sobre a saúde, ao passo que não somente estímulos visuais e sonoros seriam captados, mas também sensações corpóreas, batimentos cardíacos e os níveis de oxigênio no sangue e de dióxido de carbono no ar. Porém, apesar de todos os benefícios e comodidas possíveis, a chegada - que não se mostra muito distante - desta nova tecnologia desencadeia uma série de questões relativas a quem se destinaria o acesso a tais informações e à propriedade que temos sobre nossas falas, atos, pensamentos, corpos e, por fim, sobre nossas memórias.

MyLifeBits rendeu aos idealizadores um livro que, em português, recebeu o nome de "O Futuro da Memória".

Projeto: MyLifeBits

Reportagem: Uma vida digital - Scientific American Brasil

Celulares e intimidade por Thiago Lopes de Freitas

Após refletir sobre o conteúdo da disciplina “Mídia e Intimidade” e a produção de subjetividades da burguesia do século XIX que valorizava a preservação do espaço do íntimo e das modificações que ocorrem, sobretudo em meados do século XX, acho relevante contar uma experiência pessoal.

Os celulares funcionam quase como a realização do “sonho” humano de se comunicar com outros e espaços diferentes, sem precisar estar em um recinto fechado. Curioso pensar que a difusão desta tecnologia se deu num espaço curto de tempo, atingindo a classe média baixa brasileira principalmente a partir dos anos 2000. No entanto, em tão pouco tempo, este aparelho se tornou elemento FUNDAMENTAL para as relações humanas no meio urbano. A necessidade de comunicação para trabalho e diversão, ou ainda a capacidade de controle do espaço do outro fizeram deste aparelho um meio para se descobrir onde o outro está e o que está fazendo.

Humanos que tinham comunicação limitada por causa da distancia, hoje podem manter relações em espaços diferentes. A “paranóia” dos celulares se desenvolveu de tal forma que é possível localizar onde está o falante dos aparelhos através de sistemas criados justamente para isso. As operadoras de telefonia e os criadores dos aparelhos móveis cada vez mais investem em tecnologias de rastreamento utilizando como discurso a questão da segurança das pessoas, a prevenção para crimes etc. O que chama a atenção é a necessidade deste tipo de serviço. Talvez este não fosse um problema do passado.

Recentemente perdi um aparelho telefônico móvel e fiquei “incomunicável” por aproximadamente duas horas. Neste período, alguém o encontrou, pegou o último número que havia me ligado e ligou dizendo que o havia encontrado. Paralelamente, eu percebi que perdi o celular e fui logo fazer os procedimentos de cancelamento do chip e comprar outro telefone (não posso ficar sem essa tecnologia). Esse tempo foi o bastante para criar uma grande confusão entre amigos e familiares que queriam saber onde me localizava (já que esqueci meu aparelho num transporte coletivo e ele tinha um itinerário não muito comum ao que estava acostumado).

Com toda a confusão armada, não pude esquecer algumas questões:

Qual a real necessidade das pessoas saberem onde eu me encontro, para onde eu vou, onde estou acostumado a ir?

O que está por trás desse discurso de que devemos estar “conectados ao mundo” a todo tempo?

E depois de comprar o aparelho novo...

Por que ao chegar em casa, uma das minhas primeiras atitudes é entrar nas redes sociais e avisar para o numero máximo de amigos que modifiquei meu número de telefone?

Pensando em tudo isso, concluo que o homem contemporâneo tem por produção de subjetividade a exposição dos seus valores e da sua intimidade. Hoje, além de ser importante mostrar os vídeos e as fotografias pessoais, também é importante para ele mostrar suas idéias e estar sempre presente nas redes. Esse homem que no passado tinha um ideal de mundo baseado na contenção do comportamento burguês, hoje, exacerba essa intimidade e busca sempre estar posicionado no mundo de maneira que não passe despercebido. Daí podemos pensar a dificuldade que o sujeito de hoje tem em se “desligar” do mundo em algumas situações relaxantes, como férias, por exemplo.

Análise do Programa 15 minutos da MTV por Ana Carolina Martins


O Programa 15 minutos da Mtv, apresentado pelo humorista Marcelo Adnet trás uma característica contemporânea, a estética realista. Com um cenário caseiro, fazendo referências a um típico quarto de um jovem carioca, Marcelo afirma está gravando dentro de sua casa, dando referências que trazem o expectador para perto dele. Morador do bairro Humaitá, no Rio de Janeiro, Adnet usa elementos da sua vida real para deixar a atmosfera do programa familiar.


A todo instante o apresentador narra cenas do seu cotidiano. Dentro do seu quarto é possível perceber objetos que poderiam ser dele, como por exemplo; a bandeira do Botafogo, referências ao teatro, roupas espalhadas, objetos com uma aparência de usado e etc. Durante muito tempo as pessoas acreditavam que o programa era realmente gravado na sua casa. As roupas casuais, as referências à intimidade, o discurso feito pelo apresentador e até abertura do programa (que mostra uma imersão em buraco da fechadura) ajudou a formar essa crença.

A idéia de intimidade ser o lugar onde nós guardamos o que somos de verdade; a hora em que não precisamos colocar as máscaras e representar nenhum papel social. Onde somos realmente nós. Essa aura de verdade é levada ao espetáculo, trazendo a confiança de um público que valoriza cada vez mais uma estética realista.

Cansados do excesso de espetáculo, esse precisou se renovar para continuar em voga. O cotidiano realista somado ao audiovisual garante a atenção de um público que, valoriza cada vez mais essas imagens.


O cenário do programa, disfarçado de quarto, comandado por Marcelo Adnet, satisfaz o sujeito alterdirigido e fabrica uma transparência capaz de iludir os telespectadores e fazer pensar que aquilo que está sendo mostrado faz parte da intimidade do humorista. Reiterado por discurso familiar e casual, a estética realista garante 15 minutos diários de audiência na MTV.

Apelo realista na nossa sociedade - A repercussão de um vídeo caseiro por Deborah Leal






Os vídeos podem ser associados ao realismo-naturalista, explicado por Ilada Feldman.
Esse conceito nos diz que nossa sociedade busca hoje nas mídias a maior proximidade possível com a realidade. O realismo-naturalista inclui registros caseiros, por exemplo; como o vídeo em questão.

Hoje são mais desejadas pela população essas imagens caseiras, imagens reais de flagras ou supostamente roubadas, do que uma tentativa de reprodução da realidade; segundo a autora.

O vídeo do Pedro pode ajudar a comprovar a teoria, já que foi um vídeo amador gravado por um vizinho que o postou na internet. Essas imagens fizeram tanto sucesso que o vídeo se tornou matéria do programa televisivo "Fantástico", que chamou quem seria o "ator" principal da "trama", o Pedro, para depor. Além de ter sido gravado um funk utilizando tal situação, e podermos encontrar diversas paródias no youtube.

Isso exemplifica bem o apelo realista de nossa sociedade.

Vamos falar de sexo?: papo calcinha e as técnicas da confissão por Nayara Matos


Nos últimos séculos assistimos a mudança no mapa subjetivo dos sujeitos. Acompanhando tais mudanças um novo fenômeno emerge: a exibição da intimidade. As ferramentas midiáticas acabam por se tornar grande proporcionadores e facilitadores dessa nova experiência de expor a intimidade. Observa-se que as técnicas da confissão acabam por perdurar e ganhar uma nova tematização na contemporaneidade. Antes de apontarmos algumas peculiaridades dessa nova maneira de confessar, é necessário que se faça um breve recuo no tempo.

Michel Foucault identifica no século XIX duas maneiras de se extrais as verdades dos sujeitos, mais especificamente as verdades sobre o sexo. Uma primeira técnica para se extrair a verdade do sexo é chamada pelo filósofo de ars erotica. Tal prática procurar retirar do próprio prazer as verdades sobre o sexo. O prazer é tipo como experiência individual não havendo portanto nenhuma referencia absoluta a uma lei do que é permitido ou o que é permitido. O prazer deveria ser mantido na maior discrição, pois perderia sua eficácia e sua virtude caso fosse divulgado. Tal experiência só poderia ser passada adiante em rituais espiritualmente autorizados. A prática do ars erótica é comum nas sociedades orientais.

No entanto, nas sociedades ocidentais as verdades eram extraídas através dos discursos. Instala-se na sociedade moderna um dispositivo da confissão. Aparatado por instituições como a medicina, a justiça e a religião, a prática de confessar sobre si mesmo se tornou comum, e o sujeito moderno se tornou um sujeito da confissão. A confissão passou a ser no ocidente, uma das técnicas mais utilizadas para produzir os discursos de verdade. A confissão se torna um ritual que se desenrola em uma relação de poder, pois não se confessa sem a presença, ao menos virtual, de um parceiro. Com isso na era moderna a confissão se configura como uma ferramenta de saber poder. Nesse mesmo período não foi o fazer calar o dispositivo de poder mais efetivo, mas sim o fazer falar se tornou mais eficaz.

A principal questão que se coloca é, como se operam na contemporaneidade as técnicas da confissão. Hoje há uma nova tematização das técnicas de confissão, ainda assim elas se encontram presentes. Se no século XIX as confissões eram guardadas para os consultórios médicos e escondidos em diários secretos, hoje opera um outro regime. A principal mudança é que hoje tais confissões são públicas, são confissões alterdirigidas. Hoje além de ser necessário falar de si, é preciso fazer com isso este “falar de si” seja o mais visível possível. Um ótimo exemplo dessa confissão em massa, ou seja, para um publico cada vez maior, é o programa “Papo Calcinha” exibido pelo canal Multishow. O programa reúne quatro jovens mulheres para falar de suas experiências sexuais abertamente. Elas discutem questões associadas ao universo feminino transa no primeiro encontro, se usam vibradores ou qualquer outro acessório, se gostam de sexo anal, o que fazer quando um homem brocha, se o tamanho do pênis é importante para elas, se sentem orgasmo, aonde gostam de serem acariciadas, e muito mais. Porem o que mais chama a atenção é o teor intimo dos “papos”. Cada uma conta a sua própria e real experiência. Fica claro a relação que é estabelecida com as técnicas da confissão. O próprio canal, ao divulgar a primeira temporada do programa, o descreveu como: “um programa que faz uma revolução nada silenciosa. Ao longo dos programas, apresentadoras e convidados fazem confissões e falam sobre sexo abertamente, tirando dúvidas e contando histórias pessoais.”



Sintomático da nossa sociedade contemporânea, o programa traz personagens moldados ao gosto da mídia, atendendo de alguma forma demandas geradas pela própria construção subjetiva que fazemos parte. Para quem quiser ouvir toda e qualquer confissão de Pietra e Luhanna (as “protagonistas” apresentadoras principais do programa) é só acessar o site oficial: Papo Calcinha

Sim, mais um detalhe, só para arrematar a espetacularização em volta na vida sexual das meninas, as duas apresentadoras também podem ser vistas em um ensaio sensual para o site paparazzo. Uma revolução nada silenciosa que, como não poderia deixar de ser, esta rendendo frutos para as diversas engrenagens na mídia.

As confissões de Ricky Martin por Jander Brunn



Recentemente, o cantor porto-riquenho Ricky Martin anunciou sua autobiografia intitulada “Eu”, lançada no Brasil pela Editora Planeta. Depois da repercussão gerada quando o cantor confessou sua homossexualidade em seu site na internet, o interesse da imprensa e o número de notícias sobre ele aumentaram consideravelmente.

O episódio remete ao “show do eu” e à ideia de exposição da intimidade. O interesse pela vida privada do cantor pode ser explicado em parte pelo desejo do “real”. Ou seja: espera-se que Ricky Martin exponha em seu livro tudo o que escondeu até hoje, a sua vida de verdade.

Além disso, a ideia de contar a vida em um livro pode trazer benefícios à carreira artística do cantor (como já tem acontecido): a questão do gerenciamento da própria imagem, do próprio eu, se aplica de maneira muito clara ao caso.

JOHNSON'S® baby leva série para salas de cinema por Thiago dos Santos

Algo que me chamou bastante atenção e me fez lembrar das nossas aulas da Disciplina Mídia e Intimidade foi a nova série-propaganda intitulada “Toque de Mãe” da JOHNSON’S baby, nos Cinemas do Rio de Janeiro. Na série, quatro mães reais (como faz questão de frisar o site da Johnson’s) são estimuladas a contar suas experiências de ser mãe, com todos os detalhes e pormenores da vida cotidiana.

O site portal da propaganda assim descreve:

“No escurinho do cinema, com alto e bom som e imagem de qualidade, poderão ser vistos os melhores momentos dos 14 episódios, incluindo experiências que abrangem as principais rotinas da vida de um bebê: banho, massagem, troca de fralda e hora de dormir, momentos em que é possível educar e informar de forma natural, e ninguém melhor que as próprias mães para fazer isso. Assim, a atriz de teatro Miá Melo, 28, conta como é ser mãe da Nina, de 3 meses; a advogada Flavia Queiroz, 36, fala sobre o filho Luiz Henrique, de 9 meses; e a documentarista Flavia Angélico, 40, divide o conhecimento de ser mãe de duas garotinhas: Rafaela, 3, e Maria Clara, 1. Cabe à microempresária Gabriela Monteiro, 34, mãe da Laura, de 3 anos, mostrar os preparativos e preocupações de uma mamãe de segunda viagem, o tão esperado nascimento da pequena Beatriz, o primeiro olhar e o toque de amor entre mãe e filha.”

Na disciplina Mídia e Cultura de Consumo, da professora Carla Barros, vimos que o que caracteriza as peças publicitárias é exatamente o não compromisso com a realidade ou com o pensamento racional. Segundo Everardo Rocha, a publicidade trabalha com uma realidade utópica, é como um mundo real invertido e idealizado. Mas mesmo assim, como explicar as diversas propagandas que apelam para o “choque do real”, para conseguir credibilidade e vender seus produtos?

No livro “O Show do Eu” a professora Paula Sibilia nos fala que atualmente “o espetáculo da realidade faz sucesso: tudo vende mais se for real, mesmo que se trate de versões dramatizadas de uma realidade qualquer.” Segundo ela, a nossa sociedade está constantemente em busca de experiências autênticas ou verdadeiras, e isso se deve à constante ficcionalização e estetização da vida com os recursos midiáticos.

“Os diversos meios de comunicação atuas reconhecem e exploram o forte apelo implícito no fato de que aquilo que se diz e se mostra é um testemunho realmente vivenciado por alguém.” “Cresce esse apetite por consumo de vidas alheias e reais”

“Embora não sejam grandes vidas, de figuras ilustres ou exemplares; como se vê por toda parte, basta apenas que sejam reais, autênticas, realmente protagonizadas por um eu de verdade – ou, de novo, pelo menos que assim pareçam.”

Encontrei esse depoimento da gerente de marketing no site da marca onde ela utiliza várias frases e palavras bem interessantes, que dialogam bastante com os trechos do livro citados:

“Com essa oportunidade, conseguiremos alcançar um público diferenciado, que poderá ver na telona, de forma ainda mais evidente, a sensibilidade e o cuidado dessa produção, que vai muito além de uma propaganda convencional. O mágico deste novo formato é, justamente, sem recorrer ao puro e simples merchandising, baseado em experiências autênticas, levar conteúdo de interesse para nossos consumidores”, “comenta Christina Larroude, gerente de marketing de JOHNSON’S ® baby, sobre a série Toque de Mãe, idealizada pela marca em parceria com a agência Babel e produzida pela Bossa Nova Films.”

Vídeos:

Toque de Mãe, série de TV para JOHNSONS Baby.

Toque de Mãe, série de TV para JOHNSONS Baby. Segundo capitulo.

Quanto mais junto melhor, Terceiro capítulo.

"1,2,3...dormiu" - 4º capítulo da série da Johnsons

Os depoimentos foram extraídos do site: Portal da Propaganda

Um diário em apenas 140 caracteres por Carlos R. Coelho Filho

Desde o mês de setembro os usuários do twitter podem seguir Jacqueline Kennedy, ex-primeira dama dos EUA, que morreu em 1994 e ficar sabendo o que aconteceu durante a campanha presidencial de 1960 sob o olhar da esposa do candidato democrata John F. Kennedy.

O perfil foi criado pela Biblioteca Presidencial John F. Kennedy e a porta-voz da instituição, Rachel Day, afirma que o diário de Jacqueline Kennedy “era uma mistura do que estava passando em sua vida e de suas tentativas de aderir aos princípios e políticas da campanha”.

A escrita no diário acaba tornando- se um registro de um determinado tempo e espaço, a estrutura narrativa revela ao mesmo tempo em que se constrói a intimidade, a realidade do escritor em uma determinada época e o leitor acaba recriando esse mundo, a partir desses fragmentos do autor, narrador e personagem.

tweets de “@JBK1960”



“Pela primeira vez desde que Jack e eu estamos casados, não pude estar com ele durante a campanha.”

“Caroline e eu iremos para Hyannis esperar Jack voltar pra casa.”

“Durante a primeira parte do show mostrei algumas fotos de Jack, Caroline e eu...”

"Essa foi a última vez que fiz campanha com Jack antes da eleição, pois o meu médico disse que eu deveria ficar em Washington.”

Também são tuitados trechos das colunas escritas por ela no jornal “Campaign Wife” durante a sua gravidez que coincidiu com o período da campanha eleitoral.

Os trechos escolhidos para serem escritos no perfil “@JBK1960” procuram publicizar certos aspectos privados da vida do casal e de sua família. Ou seja, os momentos íntimos que foram escritos nos papéis do diário ou trechos de uma das sete colunas do jornal passam a ser escritos no Twitter como se ela estivesse respondendo ao “What’s Happening?” e são lidos por mais de 2 mil seguidores.

Depois de 16 anos da morte da ex-primeira dama americana, que se tornou sinônimo de elegância e discrição para grande parte da mídia, ela ressurge nos meandros do ciberespaço de uma sociedade na qual os muros que separavam o espaço público do privado estão cada vez mais transparentes.

Análise da reportagem "Cada vez mais exposição no facebook" por Jessika Alves

Reportagem: Cada vez mais exposição no Facebook

Relembrando alguns dos conceitos estudados na disciplina de Mídia e Intimidade e comparando com essa reportagem da Veja, é possível resgatarmos a idéia da “confissão” citada no texto de Michel Foucault, que traz essa necessidade das pessoas de exporem, confessarem suas intimidades. Na contemporaneidade esse ato de tornar público algo íntimo (confissão) é feito através das redes sociais. E de acordo com a reportagem da Veja esses tipos de sites de relacionamento (Facebook) tem afrouxado cada vez mais suas regras quanto à política de privacidade de dados pessoais fazendo com que o indivíduo se torne cada vez mais exposto. Enfim a exposição acaba muitas vezes fugindo ao controle do próprio usuário. A revista afirma ainda que esse tipo de problema tem ocorrido com freqüência levando em consideração que as regras desse site já foram modificadas pelo menos umas “17 vezes”.

O apelo realista colaborando com o discurso de guerra da grande mídia por Gyssele Mendes

Foram bastante veiculadas e transmitidas pela grande mídia as cenas do espetáculo ocorrido nas últimas semanas no Rio de Janeiro. A chamada “guerra”, termo utilizado para criar a idéia de um estado de exceção, angariando assim apoio de boa parte da população, trata-se de uma intervenção policial-militar (ou será político-militar?) ao Complexo do Alemão.

As imagens amplamente exploradas e muitas delas transmitidas ao vivo comprovam o apelo realista e a realidade ficcionalizada, presentes nos textos de Beatriz Jaguaribe e Ilana Feldman, estudados no decorrer do curso de Mídia e Intimidade.

Além do discurso de “guerra” implementado pela mídia, a estética de guerra na cobertura dos acontecimentos corroborava para o realismo desse discurso, por mais ficcionalizado que este fosse.

Abaixo segue um vídeo que exemplifica isso. A reportagem produzida pela Rede Record, no programa “Domingo Espetacular”, que não leva esse nome por acaso, exibe imagens que estão associadas ao imaginário de guerra, intercaladas com o discurso do especialista, no caso, o secretário de (In)Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Imaginário esse construído com auxílio das mídias audiovisuais no decorrer do século XX, que possuem papel essencial no realismo contemporâneo.

Sua Vida em um Dia por Diogo Cruz


“Mostre-nos o seu dia”, “Mostre-nos o que você teme”, “Mostre-nos o que você ama”, “Mostre-nos”. Essas são as frases que fazem parte da chamada do projeto “A Vida em um Dia” dos diretores Ridley Scott e Kevin Mcdonald. A idéia central do filme era recolher diversos vídeos amadores, de qualquer pessoa que desejasse fazer parte do projeto, e transformar todo esse material bruto em um documentário Porém, esses vídeos deveriam ser feitos no dia 24 de julho de 2010, contando um pouco da vida de quem fizesse a gravação. Os vídeos selecionados fariam parte de um documentário experimental. O argumento utilizado para convencer as pessoas a enviarem seus vídeos é de que elas fariam parte do maior filme produzido pelo público e que, além disso, criariam uma cápsula do tempo, onde deixariam para as gerações futuras um exemplo de como era viver no dia 24 de julho de 2010.

Tendo em vista o projeto e os argumentos citado podemos perceber o poder que o apelo realista exerce sobre a nossa atual produção cinematográfica. Cada vez mais as produções são feitas baseadas no regime da visibilidade. E, além disso, as imagens amadoras trazem ao telespectador a impressão de autenticidade que ele tanto almeja. Utilizando-se também das teorias de Foucault sobre a Técnica da Confissão é possível perceber que ao utilizar o “Mostre-nos” na chamada, o efeito que se espera é que se consiga extrair o máximo de verdade dos indivíduos que na dinâmica atual encontram-se regidos pela confissão espontânea. Confissões públicas sustentam a almejada visibilidade que é essencial para que um personagem exista, personagem este que é fundamental para a existência do indivíduo pós-moderno viciado em personalidades.

Desta forma o que podemos notar é que a idéia do filme “Sua vida em um dia” é criar uma produção cinematográfica sustentada pelo apelo realista, aproveitando-se também da busca de reconhecimento dos indivíduos que almejam uma vida digna de um enredo de filme.

Tudo isso e mais algumas informações: SobreTudo

Uma vida contada pelo Facebook por Bruno Alves de Oliveira Machado

"Enquanto pesquisava uns vídeos no youtube, encontrei vídeo “A life on Facebook”, que julguei bem interessante. O vídeo, dirigido por Máxime Luère, conta a história de um homem chamado Alex Droner através de uma forma pouco usual: o facebook.

Como tratamos em sala, a exposição da intimidade se intensificou de maneira impressionante com o boom da web 2.0. A necessidade de confessar o que ocorre em seu dia-a-dia, como bem analisa Foucault, se mostra sempre presente nessa sociedade margeada pelas redes sociais.

O anseio de revelar para o outro os lugares onde estivemos, o que fazemos, o que pensamos, pessoas com quem nos relacionamos dentre muitas outras coisas, acaba chegando nos canais de comunicação mais acessíveis no cenários em que vivemos: as mídias online.

Esse anseio, somado a facilidade de acesso a tais redes, chegou a tal ponto que é possível contar uma vida inteira através de uma rede social, como é o que faz Máxime Luère. Ao longo do vídeo, Alex sai para festas, fica bêbado, se envolve em vários relacionamentos, se casa e constrói uma família. Tudo até o seu derradeiro fim: o logout. "

Blog da Imelda: Criação de um Personagem, Apelo Realista e Exibição da Intimidade por Jurdiney Junior

Uma inglesa conhecida como “Imelda” ganhou notoriedade após criar um blog no qual exibia suas imagens vestindo algumas lingeries, sapatos e acessórios eróticos. Sem exibir o seu rosto e fugindo do atual padrão de beleza, Imelda ganhou seguidores ao redor do mundo. Segundo ela, a intenção do blog seria fazer com que ela perdesse a inibição e estimulasse outras mulheres acima do peso a se valorizarem. No entanto, Imelda não revela a sua real identidade, criando, na verdade, um personagem com base no seu próprio anonimato.



Para Suely Rolnik, a criação de personagens e o consumo que fazemos deles através da mídia são características da sociedade ocidental contemporânea. Segundo ela, estes são kits de “perfis-padrão” são vendidos pela mídia como identidades “prêt-à-porter” que estão prontas para serem consumidas pelo público. Suely compara esses personagens às drogas que vendem uma ilusão identitária.

Segundo Paula Sibília, o medo da solidão pode ser um dos fatores que leva uma pessoa a criar uma personagem de si própria. Porque, diferentemente das pessoas, os personagens são eternos enquanto houver a lógica da visibilidade.

Ilana Feldman acredita que, nos dias de hoje, há uma demanda pela estética realista que pode ser observada através da proliferação de vídeos caseiros, reality shows, jornalismo que faz uso de vídeos amadores a fim de legitimar a notícia e produções cinematográficas que fazem uso da estética realista a fim de dar um teor de precariedade à produção. Para Ilana, é comum que estas obras simulem a própria da não-encenação. No caso do blog da Imelda, aparentemente, a maioria das fotos é feita por ela mesma e transmitem certa noção de amadorismo.

Segundo Paula Sibília, na contemporaneidade, as fronteiras entre real e fictício foram embaçadas. E cada vez é mais comum que pessoas utilizem-se das ferramentas dispostas na internet para exibirem suas imagens criando, assim, personagens baseados na própria subjetividade, aos quais ela dá o nome de “eu”. Paula também defende a ideia de que há um gerenciamento próprio que faz com que as pessoas elevem a sua condição de produto e relacionem-se, cada vez mais, a outros produtos presentes no mercado. No caso de Imelda: lingeries, sapatos e acessórios eróticos.

Percebe-se, através das fotografias presentes no blog na Imelda, que elementos como os descritos por Rolnik, Feldman e Sibília, estão cada vez mais presentes em nossa sociedade, principalmente, num âmbito midiático.

Blog: Imelda Imelda

Espetáculo no cotidiano por Pollyane Belo

A ficcionalização da realidade solidifica a presença de personagens encorporados pelo sujeito ordinário. O isolamento seria a única via para desvincular a performance cotidiana do indivíduo comum. Uma estratégia para a construção dessa personalidade alterdirigida é a confissão, idéia desenvolvida por Focault. Através do ato confessional o personagem exerce o poder da gestão de si mesmo, a possibilidade de se edificar por meio da perspectiva do outro, podendo sofrer represálias, adquirir o perdão ou criar um estreitamento permeado por compaixão.

Ao se comparar este personagem com as celebridades essa visão se torna evidentemente mais radical. Não importa o espaço, majoritariamente, estão sendo perseguidos por lentes fotográficas prontas para enquadrá-los em um momento mais embaraçoso ou íntimo. No momento que ele puder ser clicado, será. As reclamações por parte destes são inúmeras com relação à exposição de um momento que não condiz com a sua concepção da esfera privada, baseadas em argumentos claros de só concederem sua imagem para o ambiente público, ou seja a presença nos meios de comunicação com autorização prévia. Contudo, a mídia naturalizou o estado público-integral do famoso, não distinguindo o limite entre o que é conveniente a cada esfera. Este fato contemporâneo é confuso até para a exposição dos anônimos feita através de redes socias.

Entretando, e se essa exposição for autorizada? Divergindo da lógica de colunas em sites e revistas, exclusivas para as vidas desses agentes explicitadas sem cautela, existe o projeto One Day in The Life Of..., uma proposta do fotógrafo Tim Hailand de revelar o cotidiano de figuras conhecidas, porém com um viés mais artístico. A idéia inicial é de passar um dia completo com o indivíduo e registrar todos os momentos (ou os mais condizentes com o objetivo do trabalho), e logo após transformar o material resultante dessas 24 horas em um livro fotográfico. Nessas obras suscitam-se os papéis equalizadores com o homem ordinário, ou seja, esses indivíduos encontram-se no mesmo patamar da pessoa comum, além de haver um estreitamento na identificação do consumidor com o sujeito ali retratado, já que ações simples de seu cotidiano foram representadas, tarefas que qualquer um realiza.

Vale elucidar a cristallização do espetáculo constituída pela comercialização desse produto, e consequentemente na compra do mesmo por esse consumidor ávido por fotos únicas de seu artista estimado, é um privilégio. E o que faz o sujeito comum conseguir sua performance pública ser reconhecida e admirada? Ele reapropria esses códigos espetaculares à sua realidade e os disponibiliza em locais possíveis para uma resposta. A visibilidade, não importa como se obtenha, constitui a certeza da existência.



Obs.: Daniel Radcliffe é o protagonista da série de filmes Harry Potter.

sites:

One Day in The Life Of Project


Perfil de spasmisk na rede social Deviantart, onde a mesma posta seus trabalhos amadores

Todos querem ser jovens por Milena Godolphim

O vídeo feito por Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues fala sobre a atual geração de jovens que influenciam o consumo, a moda, os hábitos. Influenciam os mais novos e os mais velhos.

Conhecidos como “Geração Y”, são a maior geração jovem em quantidade de pessoas que já existiu e em poder de compra.

Com origens no baby boom pós II guerra mundial (40/50), numa geração que viveu a insegurança e buscou grandes mudanças para o mundo. Que queria ser ouvida e criou o estilo de vida jovem; e ainda que grande parte das solicitações dessa geração não tenham sido atendidas, mudaram a educação e cultura que foi passada para seus filhos e o mundo daí em diante. Deram origens a jovens mais livres, que “tinham as chaves de casa”, tomaram conta dos grandes festivais e das ruas.

A geração “Baby Boomers” foi a “Juventude Libertária” e seus posteriores, a “Geração X”, aproveitaram suas conquistas para a juventude.Estes, nascidos nos anos 60/70 buscavam o prazer e a curtição sem culpas. “Inconformados e entusiastas (...) tomaram conta de suasindividualidades”. Não eram mais hippies ou caretas. Eram punks, pós-punks, protopunks, hardcore, etc.: a “Juventude Competitiva”.

Hoje os “millenials, digital youth ou geração Y” são a “Juventude Global”. Graças à internet essa geração é definida por acesso total. Suas identidades transcendem o local de onde são e mudam a todo o momento. A internet é interatividade, e está possibilitando que “conteúdo pessoal” ganhe dimensões estratosféricas, onde tudo pode ser remixado, também alcançando relevância pra fora da internet. As grandes instituições religiosas, estatais, etc, perdem força e as opções pairam soltas à disposição dos jovens; com tanto conteúdo à disposição eles devem fazer escolhas constantes em suas vidas, o que os torna ansiosos e inseguros.

“Hoje em dia é legal saber e ser várias coisas ao mesmo tempo”. As personalidades flexíveis devem ser mutáveis (conforme a mutação dos padrões): “é possível ser surfista, DJ, roqueiro, nerd, cinéfilo, design ao mesmo tempo”. Contanto que cada uma das opções no momento e local adequado e esperado para tais padrões. “É uma pluralidade que garante que os jovens possam, simultaneamente, reconhecer-se, mesmo com suas diferenças pessoais.”

“O prazer acontece em breaks programados”. Os padrões são variados, mas programados. A pessoa deve descansar, trabalhar, correr, etc.: no momento e local para isso.

Sempre buscando a performance mais produtiva em todos os aspectos, inclusive na diversão e no descanso.

“Os jovens millenials são pragmáticos. Eles também são mais realistas. Seus grandes ídolos não são as figuras mais idealizadas, mas sim pessoas comuns que realizam pequenos e possíveis sonhos que não são utópicos.”

Os millenials são realistas, transparentes, e bem visíveis.
O vídeo é mais que autoexplicativo, assistam!

Tulla Luana e o espetáculo dos videologs por Yi Jing



Na passagem do século XX ao XXI, a internet - principalmente após o conceito de web 2.0 - se tornou um espaço em que todos podem publicar conteúdos, que ficarão disponíveis a qualquer pessoa do mundo inteiro. Textos e vídeos confessionais - os conhecidos blogs e vlogs - se espalham cada vez mais no meio internético.

Em novembro desse ano, a internauta Tulla Luana publicou um vídeo no YouTube, que circulou pelas redes sociais e blogosfera e acabou tornando-se um viral. Neste video, chamado "PROPAGANDA ENGANOSA DA COLHEITA FELIZ", Tulla Luana reclama de uma promoção (segundo ela, enganosa) da Colheita Feliz, um jogo do Orkut. O vídeo é gravado em seu quarto e quem está no controle da câmera é o marido de Tulla. A partir dessa gravação, os demais vídeos de Tulla passaram a ser acompanhados por diversos internautas, que se inscreveram em seu canal no YouTube.

A visibilidade foi tanta, que Tulla até fez uma promoção aos seus seguidores (a quem chama de "fãs"). A promoção sortearia um roupão do reality show Big Brother Brasil, que ganhou da Globo Marcas, após fazer um vídeo reclamando dos seus serviços.

Tulla Luana tornou-se uma "celebridade" da internet. Seus vídeos, antes voltados às críticas e reclamações de consumidor, passaram a ser direcionados aos seus espectadores. No vídeo "BEIJOS, BEIJOS E MAIS BEIJOS REENVIO", Tulla, cada vez mais, passa a adquirir a personalidade de uma apresentadora de TV. Com uma listinha de papel na mão, Tulla menciona os nomes de alguns de seus fãs e manda beijo a eles. Ela até comenta, no início de vídeo, que colocou uma plantinha para "melhorar o cenário" (seu quarto).

Seus vídeos são um espelho da sociedade do espetáculo de Guy Debord. Tulla dialoga com o público numa espécie de programa televiso (em formato de videologs). Em um dos vídeos, ela até diz: "hoje é dia 26 ainda, estou com a mesma roupa ainda. Gente, estou há 24h no ar com vocês!".

Com o boom dos videologs, o espaço privado (neste caso, o quarto) passou a ser público e midiatizado. O lugar da interioridade foi deixado de lado, privilegiando, desse medo, a exibição do eu, em forma de espetáculo.

sábado, 27 de novembro de 2010

Os códigos de ficção contagiaram a realidade por Eduardo Beranger

Os telejornais cada vez mais bebem na água da estética cinematográfica para transmitir suas notícias , e não é preciso nehum esforço quando o cenário espontaneamente já se assemelha a um filme de guerra. Como é o caso da atual situação na cidade do Rio de Janeiro .

Na TV acompanha-se ao vivo a movimentação da polícia e dos bandidos. A população, sufocada, busca maneiras de manifestar a insatisfação e o medo. Nesse cenário de batalha a única coisa que assimilou-se foi a ''bandeira branca da paz''.

Valendo-se dos ''links'' ao vivo das tvs ou de qualquer movimentação midiática os cidadãos prontificaram-se a flamular panos brancos pelas janelas pedindo paz.

Na notícia destacada , a edição e narração constrói um discurso melodramático nítido, com códigos melodramátivos e cinematográficos evidentes como as já citadas bandeiras brancas e o '' lado do bem e o lado do mal". Declarações em entrevista da sociedade esperançosa são intercaladas com as imagens dos tiroteios.

Vídeo: Jornal Hoje - Em meio ao caos, moradores apoiam as ações da polícia no Rio

Uma sociedade singularmente confessanda por Eduardo Beranger

Nesse site as pessoas confessam suas desgraças que podem ser avaliadas pelos visitantes e outros usuários pelo índice VDM , um "termômetro" que mede o nível de desventura do confessando.

A veracidade dos relatos é contestável , mas a necessidade de confissão fez brotar uma ferramenta que gira em torno desse tema. Nesse contexto a intimidade é exposta pelas suas formas mais constrangedoras.

Site: Vida de Merda

ver também: FMylife

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O real de cada dia por Letícia Rossignoli

O século XX foi determinante para a escrita e estética do jornalismo. O modelo norte-americano massacrou formas outras de narrativas dentro das redações, o que ditava os acordes da orquestra jornalística já estavam dadas nas partituras. Enfim, o leitor se acostumou a ler narrativas diferentes na mesma melodia. Pode-se perguntar: quem é esse maestro tão pouco inspirado? A técnica! É a mesma que colocou abaixo todas as aspirações da modernidade, incorporadas pelo projeto iluminista e que retalhou a escrita do jornalismo em blocos de idéias que são, nada menos, do que respostas caquéticas às perguntas não menos prodigiosas, tais como: o que? quem? porque? e quando? Assim, a complexidade que emana do cotidiano humano foi reduzida a pautas pré-montadas.

Saltemos da escrita para a imagem, sem tirar os olhos da linha que os unem, podemos dizer que os conteúdos do jornal tiverem gradativas mudanças com a chegada de outras tecnologias visuais. A visibilidade técnica impõe-se como modelo estético, inicialmente na televisão, mas também no cinema, nos painéis publicitários e em todas as mensagens visuais (CIRO: 2000). A técnica, neste momento, mesclada com as imagens, reafirma sua preeminência nas matérias do jornal. Primeiro, uma imagem tecnicamente perfeita; depois, um texto, uma narrativa, uma notícia.

Porém, nós, pequenos humanos, que temos a descrença na crença, como crença, insistimos, com fé, na “verdade” das imagens técnicas. Instauramos um real que supera a realidade, “a imagem técnica superou as demais artes na sua tradução do realismo mimético”(JAGUARIBE:2007). Queremos os fatos fabricados, mais dramaticidade, criação de cenas e situações impossíveis de obter na realidade. É um direito nosso que nos ofereçam a melhor técnica/estética. E por que não? Mais enfadonho que o dia-a-dia é a maneira que os jornais contam sobre o nosso cotidiano. Concordo com o mercado montando trocadilho, fatos sem excessos de real não vendem jornal.

Voltemos para a escrita e percebamos que narrativas associados ao curioso, ao insólito, ao imageticamente impressionante ganham mais espaço no noticiário. Informar somente, não basta. É necessário se surpreender com pessoas e coisas. A produção de notícias sobre fatos extra-jornalísticos ou não-jornalísticos começam a compor as primeiras páginas. Entrevistas com candidatos a cargos públicos sobre temas “embaraçosos”, a opção sexual de uma certa personalidade e o problema de saúde de algum líder religioso são exemplos desse realismo sensacionalista que vigora na escrita jornalística.

O apelo que se instaura no jornalismo é o mesmo que vemos nos variados meios de comunicação: fazer com que a imagem ou a narrativa midiática seja mais prenhe de realismo do que nossa realidade individual. Desejamos o que é necessário que façamos (RIESMAN), nos encharcar do real. O jornal como lugar da verdade, imparcialidade e transparência se torna num cálice perfeito para que se transborde o vinho novo, aguçado, odor e sabor intensos. Bebemos dessas taças transbordantes todos os dias e embriagados pedimos por mais.

O jornalismo ainda sobrevive amparado em nosso vício, se reformulando de acordo com a ordem estética, pois não se coloca vinho novo em odres velhos. Encerro propondo que façamos a mesma pergunta que Lacan: “Por que será que tenho, também eu, a sensação que esta profissão não existe, que não tem de fato corpo, estatuto, que as práticas jornalísticas constituem na melhor das hipóteses um conjunto heterogêneo com limites incertos, pronto a se deslocar sob as pressões tecnológicas ou econômicas?”

Análise da matéria "O que vocês estão olhando?" por Milton Batista

O que vocês estão olhando?

Uma discussão sobre o direito à intimidade na era do Google Street View, Facebook, Orkut e Twitter

Mais uma matéria que levanta a polêmica questão da privacidade na internet, desta vez tomando como exemplo o Google Street View. Em entrevista ao caderno Aliás, do Estado de São Paulo, Túlio Viana, professor de direito penal na UFMG fala sobre problemas na exposição da intimidade em redes sociais.

A polêmica apontada está inserida numa lógica de sociedade que Gilles Deleuze chamou de sociedade do controle. No caso do Google Street View, a pessoa que se sente lesada, pode recorrer na justiça e pedir que as imagens sejam retiradas. Em contrapartida, nas redes sociais também percebe-se o monitoramento típico desse tipo de sociedade, mas a exposição da intimidade nessas redes é algo consentido pelo usuário e, mais importante, desejado por ele.

O próprio entrevistado, ao ser perguntado qual seria sua reação se fosse flagrado pelas lentes do Street View, brinca e diz que “Se saísse bem na foto, divulgaria o link no Twitter e no Facebook. Se saísse mal, talvez processasse o Google para conhecermos a posição do STF sobre os limites do nosso direito a privacidade”.

domingo, 21 de novembro de 2010

"I'll Be Your Mirror" reflete uma intimidade não invasiva de Thomas Dozol


Em uma época em que a fronteira entre o público e o privado quase não existe, a vida pessoal, seja de celebridades ou anônimos, torna-se foco de interesse. Não é à toa que um programa como “Big Brother”, assim como a maioria dos reality shows, atrai tanta audiência e gera assunto para a imprensa o ano inteiro. A partir desta ideia, a exposição "I'll Be Your Mirror", do badalado fotógrafo francês Thomas Dozol, pode parecer pouco nova. No entanto, a exibição de fotos nas quais ele clicou amigos - famosos e desconhecidos - saindo do banho mostra outra faceta de como lidamos com a questão da privacidade.

Em cartaz no Espaço Soma até 27 de novembro, as 25 fotos que fazem parte da mostra nasceram da proposta de Dozol em flagrar pessoas depois de 15 minutos de banho, sem nenhum tipo de produção, nem mesmo iluminação especial. Assim surge a atriz Gwyneth Paltrow de cabelos molhados, enrrolada em uma toalha, Michael Stype, vocalista do REM, observando-se no espelho, além de pessoas sentadas no vaso sanitário, fazendo a barba, escovando os dentes e em outras situações extremamente íntimas e corriqueiras.

Para o curador da exposição, Diego Godoy, a ausência da produção faz o trabalho de Dozol ser uma crítica ao culto a celebridade."Thomaz dá um tratamento igualitário aos seus amigos. Podemos viajar na intimidade, na introspecção, na solidão de cada um.


Há uma dimensão humana que desconstrói toda essa cultura da celebridade. Famosos, quando não são retratados com glamour, aparecem em fotos distantes, de baixa qualidade, numa espreita que não demonstra nenhuma ligação entre fotógrafo e fotografado. Já em "I´ll Be Your Mirror" vemos uma relação íntima, mas não invasiva. Thomas foi convidado a entrar na intimidade de cada um e ele sai de lá com um resultado realmente único e raro", disse.

Godoy foi a pessoa que trouxe "I'll Be Your Mirror", o primeiro trabalho de Dozol exposto no Brasil, depois da série ter passado por Nova York e Atlanta.

Fonte: Colherada Cultural

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Filme: We All Want to Be Young



Dica da Milena Godolphim

Lula vira personagem de história em quadrinhos

A vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ser narrada em uma história em quadrinhos biográfica. Em 48 páginas, as ilustrações percorrerão os principais episódios da vida de Lula, desde sua infância em Caetés (PE), até o final de seu mandato presidencial.

De acordo com a editora Sarandi, responsável pela publicação que recebeu o título Luiz Inácio Brasileiro da Silva, a história começa com a declaração do presidente americano Barack Obama feita na cúpula do G20 em Londres no ano passado, quando ele disse que: "esse é o cara", referindo-se a Lula como "o político mais popular do mundo". Com esse episódio como gancho, a história de Lula ganha vida, como suas origens, a experiência como torneiro mecânico, a ascensão nos sindicatos e a fundação do PT, com o qual chegaria à chefia do Estado nas eleições de 2002.

O roteiro do livro é de Toni Rodrigues, autor de publicações infantis, e as ilustrações do argentino Rodolfo Zalla, renomado editor de histórias em quadrinhos dos anos 1980.

No final das 48 páginas, uma mensagem assinada pelo próprio Lula diz que sua história "representa os milhões de brasileiros anônimos que ainda não tiveram oportunidades".

A história em quadrinhos chegará às bancas nas próximas semanas com uma tiragem inicial de 37 mil exemplares, a R$ 4,95. Outras personalidades que marcaram o Brasil também devem ganhar versões em quadrinhos.

Fonte: Terra

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Navio-auditório e classe média “espontânea”

por Ilana Feldman

Em Pacific (2009), desconcertante filme de Marcelo Pedroso, o diretor organiza narrativamente, por meio da montagem, imagens domésticas captadas por passageiros do cruzeiro Pacific, cujo trajeto, de Recife à ilha de Fernando de Noronha, promete realizar os sonhos de consumo, entretenimento e excitação permanentes de uma classe média à vontade, “espontânea” e emergente. Performando-se para as suas próprias câmeras, construindo-se para as suas próprias imagens, os passageiros de Pacific, como quaisquer turistas, colecionam e acumulam experiências, sensações e imagens-síntese de uma passageira vida-lazer, adquirida a suadas prestações do cartão de crédito.



“Que nossos queridos passageiros tenham todos mais um excelente espetáculo!”, diz, para a platéia de passageiros com filmadoras em punho, o apresentador do navio-auditório, onde não pode haver tempo morto nem pausa, observação distanciada nem contemplação passiva. Na vida-lazer do navio-auditório que o filme Pacific nos apresenta (de outra ordem daquela desejada pela prostituta de Viajo porque preciso, volto porque te amo), é preciso ser permanentemente interativo, participativo e colaborativo. Pois a vida-lazer aqui, seja encenada para si, encenada para o outro ou encenada para nós – ainda que à força do deslocamento dessas imagens, que deixam de habitar o âmbito da privacidade para tornarem-se publicidade –, em realidade, é uma vida-trabalho.

O filme é interessantíssimo e fundamental para pensarmos, entre outras questões, a relação entre imagens amadoras, performance e produção subjetiva (em meio a um "navio auditório" habitado por uma classe média "espontânea"):

domingo, 7 de novembro de 2010

Rainha britânica Elizabeth II estreia segunda-feira no Facebook

A rainha britânica Elizabeth II estreia nesta segunda-feira uma página oficial na rede social virtual Facebook, oferecendo a seus fãs atualizações diárias sobre seus compromissos, disse a casa real neste domingo. A monarca de 84 anos estará em vídeos, fotos e em notícias em sua página, disponível a partir de amanhã, junto à pagina de outros membros da família real, incluindo os príncipes William e Harry.

Os usuários do Facebook poderão enviar mensagens para o Palácio de Buckingham, deixar comentários na página da rainha e encontrar detalhes sobre os eventos reais. Entretanto, como as contas serão empresariais e não pessoais, os usuários do Facebook não poderão se tornar amigos da rainha.

A entrada da rainha no Facebook é sua mais nova incursão social na mídia virtual. A família real já possui uma conta no website de fotografias Flickr, no Twitter e, em 2007, lançou um canal de vídeo no Youtube.

O Palácio de Buckingham lançou seu próprio website em 1997, que atualmente permite aos visitantes buscar emprego no palácio, acompanhar a família real pelo Google Maps ou ler detalhes sobre os premiados cães corgi da rainha em uma seção devotada a eles. As informações são da Associated Press.

Fonte: JC Online

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vida e casamento de Saramago são temas de "José e Pilar"

Mesmo sendo um documentário, "José e Pilar" é um dos filmes mais românticos a que se pode assistir -- porque a força do amor de mais de duas décadas entre o escritor português José Saramago (falecido em junho de 2010) e a jornalista espanhola Pilar Del Río afirma-se pela capacidade que o diretor português Miguel Gonçalves Mendes mostra ao capturar momentos qualificados desse relacionamento.

Coprodução entre o Brasil, Espanha e Portugal, o filme entra em circuito nacional. Todos conhecem, mal ou bem, alguma coisa sobre o José Saramago vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1998 -- único, até agora, para a língua portuguesa --, autor de livros como "Memorial do Convento", "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "Ensaio sobre a Cegueira" (levado às telas do cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles, um dos produtores deste documentário), "o Evangelho segundo Jesus Cristo", "Caim", e tantos outros.

O homem sincero e humanista que despertava polêmica em alguns círculos por sua completa adesão ao ateísmo e ao esquerdismo. Convicções essas que levaram não poucos a dirigir-lhe cartas assustadoramente agressivas -- como uma mencionada no filme, em que uma pessoa "lamenta que não exista mais a inquisição, para vê-lo arder em praça pública numa fogueira".

Nem todos conhecem tão bem quanto este documentário permite agora o caráter de Pilar Del Río, que emerge das imagens muito maior do que a mera "mulher atrás do grande homem".

Personalidade forte, tão franca e engajada quanto o marido, Pilar mostra-se uma interlocutora à altura de Saramago, com quem ele discutia todos os assuntos. Uma conselheira para todas as horas, com capacidade de discordar dele furiosamente -- como se vê numa conversa entre os dois, na casa de amigos, sobre as então iminentes eleições norte- americanas, ele a favor da candidatura de Barack Obama, ela defendendo com unhas e dentes Hillary Clinton, que então disputava com o hoje presidente a indicação pelo Partido Democrata.

Seja na paisagem de beleza selvagem da ilha de Lanzarote, onde o casal viveu nos últimos anos, seja viajando pelo mundo, é possível compartilhar a rotina fértil e frenética do escritor e da jornalista -- que traduzia para o espanhol os livros do marido, quase simultaneamente à sua escritura.

Para Pilar, numa declaração singularmente esclarecedora de sua natureza, "cansaço não existe". Por isso, ela e Saramago aceitavam tantos convites para palestras, congressos e o acompanhamento de algumas adaptações de sua obra em outros meios.

Duas destas viagens comprovam o enorme alcance da obra do autor português -- uma ópera na Finlândia, sobre personagens tirados de "Memorial do Convento"; e uma peça no México em torno de "As intermitências da morte", em que Saramago contracena, no próprio papel, com o ator Gael García Bernal.

Uma conversa com Bernal e diversos lançamentos de livros permitem testemunhar alguns comportamentos espantosos diante da celebridade, este um inquietante mal de nossos tempos. Os mais constrangedores estão nos pedidos exóticos dos fãs do escritor. O mais estranho deles, talvez, o de um jovem brasileiro, que pede a Saramago que lhe desenhe um hipopótamo no livro que está para autografar.

Por Neusa Barbosa, do Cineweb