domingo, 5 de dezembro de 2010

Mães colocam crianças em "Baby Brother" na internet; especialistas criticam

Meu primeiro maiô. Dois meses. Três meses. Minha primeira boneca. Tentando bater palma. Minha primeira praia. Primeira Páscoa.

É publicando textos com esses assuntos em um blog que a técnica em telecomunicação Viviane Trupel, 29, quer guardar momentos da infância de sua filha.

Assim como ela, muitas outras mães, e pais, fazem o mesmo: divulgam na internet, com textos, fotos e vídeos, informações íntimas de seus filhos recém-nascidos.

Se, por um lado, deve ser bom ter registrados momentos que normalmente não lembramos, por outro, gera uma superexposição, criticada por especialistas.

Além da segurança, eles falam da questão psicológica, já que depois a criança pode achar ruim a divulgação de sua vida na internet.

"Qualquer evento do desenvolvimento da criança, sempre que colocado em ambiente público, como a internet, dá margem a que outras pessoas tenham acesso", afirma Aderson Costa, professor do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da UnB.

Costa cita "situações de gozação" e associadas ao bullying. "A rotina da criança não deve ser disponibilizada em ambiente público em hipótese alguma", diz.

Mas, como no caso de Viviane, os pais só pensam em registrar todos os momentos. "Minha ideia era fazer um álbum do bebê para mostrar para a família", diz a mãe.

Ela conta que, como a página é pouco visitada, não se preocupou em invadir a privacidade da filha, hoje com um ano e cinco meses.

COMO UM DIÁRIO

A mãe Giovana Reobol, 35, afastada do trabalho por motivo de saúde, pensa no blog de seu filho como um diário. "Acho que tem mais ponto positivo que negativo", diz ela, que já teve cerca de 200 mil acessos desde o início da página, há cerca de três anos, quando engravidou.


Luciana Rufo, do Departamento de Psicologia da USP, questiona a prática. "Por que essa mãe alimenta essa necessidade? Se a ideia é fazer um diário, ele não tem que ser público. Antigamente diário tinha até chave."

"A criança vai crescer possivelmente achando que é bom expor a própria intimidade, porque ela dá valor ao que os pais valorizam", afirma Luciene Paulino Tognetta, pedagoga e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unicamp e da Unesp.

E não é só isso. Segundo ela, "a mãe não só ensina que é bom se expor, como impede que essa criança saiba guardar aquilo que é intimo. E quem não se respeita possivelmente não respeita a intimidade dos outros".

Fonte: Folha.com

Dica da Nayara Matos

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