sábado, 4 de dezembro de 2010

Blog da Imelda: Criação de um Personagem, Apelo Realista e Exibição da Intimidade por Jurdiney Junior

Uma inglesa conhecida como “Imelda” ganhou notoriedade após criar um blog no qual exibia suas imagens vestindo algumas lingeries, sapatos e acessórios eróticos. Sem exibir o seu rosto e fugindo do atual padrão de beleza, Imelda ganhou seguidores ao redor do mundo. Segundo ela, a intenção do blog seria fazer com que ela perdesse a inibição e estimulasse outras mulheres acima do peso a se valorizarem. No entanto, Imelda não revela a sua real identidade, criando, na verdade, um personagem com base no seu próprio anonimato.



Para Suely Rolnik, a criação de personagens e o consumo que fazemos deles através da mídia são características da sociedade ocidental contemporânea. Segundo ela, estes são kits de “perfis-padrão” são vendidos pela mídia como identidades “prêt-à-porter” que estão prontas para serem consumidas pelo público. Suely compara esses personagens às drogas que vendem uma ilusão identitária.

Segundo Paula Sibília, o medo da solidão pode ser um dos fatores que leva uma pessoa a criar uma personagem de si própria. Porque, diferentemente das pessoas, os personagens são eternos enquanto houver a lógica da visibilidade.

Ilana Feldman acredita que, nos dias de hoje, há uma demanda pela estética realista que pode ser observada através da proliferação de vídeos caseiros, reality shows, jornalismo que faz uso de vídeos amadores a fim de legitimar a notícia e produções cinematográficas que fazem uso da estética realista a fim de dar um teor de precariedade à produção. Para Ilana, é comum que estas obras simulem a própria da não-encenação. No caso do blog da Imelda, aparentemente, a maioria das fotos é feita por ela mesma e transmitem certa noção de amadorismo.

Segundo Paula Sibília, na contemporaneidade, as fronteiras entre real e fictício foram embaçadas. E cada vez é mais comum que pessoas utilizem-se das ferramentas dispostas na internet para exibirem suas imagens criando, assim, personagens baseados na própria subjetividade, aos quais ela dá o nome de “eu”. Paula também defende a ideia de que há um gerenciamento próprio que faz com que as pessoas elevem a sua condição de produto e relacionem-se, cada vez mais, a outros produtos presentes no mercado. No caso de Imelda: lingeries, sapatos e acessórios eróticos.

Percebe-se, através das fotografias presentes no blog na Imelda, que elementos como os descritos por Rolnik, Feldman e Sibília, estão cada vez mais presentes em nossa sociedade, principalmente, num âmbito midiático.

Blog: Imelda Imelda

Um comentário:

Michelle Vasconcellos disse...

A Globalização trouxe a possibilidade de libertação, de você pode mudar, ser o que você quiser. E essa questão da demanda de criação de personagens, vem legitimar ainda mais o perigo de se virar um nada.