sábado, 4 de dezembro de 2010

Real fictício x Ficção Realista por Laís Rodrigues Nunes

A estética realista consiste em inventar ficções que pareçam realidades. O autor de novelas da Rede Globo, Manoel Carlos, é conhecido por escrever novelas fazendo uso do “efeito de real”, para que o público se engaje com suas personagens e, assim, sua pedagogia moralizante seja eficaz.

Em muitas de suas novelas, Manoel Carlos trabalhou questões polêmicas do mundo real como enredo principal. Em “Por Amor”, Helena, ao ver que seu neto morreu e que sua filha não poderia engravidar novamente, finge que seu filho recém-nascido é o filho de sua filha. Em “Laços de Família”, é trabalhada a questão da leucemia e, uma nova personagem é inserida na novela para morrer em virtude desta doença, para que o fato da personagem principal, Camila, não morrer não fique inverossímil. Entretanto, o melhor exemplo da busca de Manoel Carlos por tornar as suas novelas verossímeis é “Páginas da Vida”, exibida pela Rede Globo no ano de 2006. Nesta novela, foram apresentados, durante a trama, diversos elementos que remetiam à realidade, como o ataque às Torres Gêmeas em 2001, a abertura da cratera do metrô de São Paulo (2006) e a tragédia do menino João Hélio (2006).

Por outro lado, na Sociedade Ocidental Contemporânea, há um anseio pelo real espetacularizado, em outras palavras, há um desejo pela ficcionalização do real, pois o real “puro” é chato, não tem graça. Pode-se perceber essa tendência nos reality shows.

“8th & Ocean” é um reality show exibido pela MTV em 2006, que apresentava a rotina de jovens modelos, que moravam em Miami, entre a vida profissional e a convivência entre eles, porque as meninas dividiam apartamento entre si e, os meninos dividiam outro apartamento. Como característico dos reality shows, a edição de “8th & Ocean” fazia uma construção de personagens típica de uma novela das oito. Entre outras personagens, havia a menina ingênua do interior que se recusava a ser fotografada seminua e, era apaixonada por um dos modelos. Este também gostava dela, mas não resistia aos encantos de outra modelo, que, inicialmente, não morava com as outras meninas. Pode-se identificar, claramente, neste triângulo amoroso, a mocinha, o mocinho e a vilã. Além disso, irmãs gêmeas também moravam na casa e, a relação entre as duas e as diferentes atitudes delas faziam com que o público identificasse uma como a gêmea boa e outra como a gêmea má.

Pode-se perceber por essa construção de personagens dos reality shows, a necessidade que o público tem de polarizar o bem e o mal, para poder se identificar com os representantes de um dos polos e se engajar com eles. No caso das ficções, é preciso que elas tenham elementos reais, para que o público se sinta mais perto da história e assim possa se engajar também. A conclusão a que se pode chegar a partir dessa ficcionalização do real e da ficção construída com elementos reais é que há uma necessidade de espelhamento do sujeito contemporâneo (o que remete à “identidade prêt-à-porter”) e que não se pode identificar claramente o que é real e o que é ficção, só se pode problematizar essas questões.

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