Após refletir sobre o conteúdo da disciplina “Mídia e Intimidade” e a produção de subjetividades da burguesia do século XIX que valorizava a preservação do espaço do íntimo e das modificações que ocorrem, sobretudo em meados do século XX, acho relevante contar uma experiência pessoal.
Os celulares funcionam quase como a realização do “sonho” humano de se comunicar com outros e espaços diferentes, sem precisar estar em um recinto fechado. Curioso pensar que a difusão desta tecnologia se deu num espaço curto de tempo, atingindo a classe média baixa brasileira principalmente a partir dos anos 2000. No entanto, em tão pouco tempo, este aparelho se tornou elemento FUNDAMENTAL para as relações humanas no meio urbano. A necessidade de comunicação para trabalho e diversão, ou ainda a capacidade de controle do espaço do outro fizeram deste aparelho um meio para se descobrir onde o outro está e o que está fazendo.
Humanos que tinham comunicação limitada por causa da distancia, hoje podem manter relações em espaços diferentes. A “paranóia” dos celulares se desenvolveu de tal forma que é possível localizar onde está o falante dos aparelhos através de sistemas criados justamente para isso. As operadoras de telefonia e os criadores dos aparelhos móveis cada vez mais investem em tecnologias de rastreamento utilizando como discurso a questão da segurança das pessoas, a prevenção para crimes etc. O que chama a atenção é a necessidade deste tipo de serviço. Talvez este não fosse um problema do passado.
Recentemente perdi um aparelho telefônico móvel e fiquei “incomunicável” por aproximadamente duas horas. Neste período, alguém o encontrou, pegou o último número que havia me ligado e ligou dizendo que o havia encontrado. Paralelamente, eu percebi que perdi o celular e fui logo fazer os procedimentos de cancelamento do chip e comprar outro telefone (não posso ficar sem essa tecnologia). Esse tempo foi o bastante para criar uma grande confusão entre amigos e familiares que queriam saber onde me localizava (já que esqueci meu aparelho num transporte coletivo e ele tinha um itinerário não muito comum ao que estava acostumado).
Com toda a confusão armada, não pude esquecer algumas questões:
Qual a real necessidade das pessoas saberem onde eu me encontro, para onde eu vou, onde estou acostumado a ir?
O que está por trás desse discurso de que devemos estar “conectados ao mundo” a todo tempo?
E depois de comprar o aparelho novo...
Por que ao chegar em casa, uma das minhas primeiras atitudes é entrar nas redes sociais e avisar para o numero máximo de amigos que modifiquei meu número de telefone?
Pensando em tudo isso, concluo que o homem contemporâneo tem por produção de subjetividade a exposição dos seus valores e da sua intimidade. Hoje, além de ser importante mostrar os vídeos e as fotografias pessoais, também é importante para ele mostrar suas idéias e estar sempre presente nas redes. Esse homem que no passado tinha um ideal de mundo baseado na contenção do comportamento burguês, hoje, exacerba essa intimidade e busca sempre estar posicionado no mundo de maneira que não passe despercebido. Daí podemos pensar a dificuldade que o sujeito de hoje tem em se “desligar” do mundo em algumas situações relaxantes, como férias, por exemplo.
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